8.2.13

A (talvez) solução para a crise

Por Ferreira Fernandes
OS JOVENS perdidos, a impreparação do líder, o compadrio inexplicado, a classificação frágil entre as nações europeias, enfim, a crise nacional só se salva com um sobressalto cultural. Isso, cultural! A seleção sem rumo, o Paulo Bento tão infelizmente sincero pois o que diz de forma trôpega é mesmo o que quer dizer, o Postiga, aliás, "Mas porquê o Postiga, meu Deus?!" que é o que devia ter na camisola (e o melhor seria ele não tê-la), o tio-ó-tio com minorcas a que temos de ganhar sem que isso nos garanta o alívio, enfim, o horror de podermos não estar no Mundial do Brasil concita a vontade da Pátria. Não peço para mudar ninguém (exceto o Postiga, claro), pois é tarde. Mas que um médium dê corpo a Gago Coutinho e que ele baixe para dizer como se chega ao Brasil e o que é um Mundial no Brasil. Acontece só de 60 e tal anos em 60 e tal, há gerações (Pelé, Cruyff, Zidane...) que não tiveram um. 
Uma final no Maracanã é rara como o cometa Halley, mas mais dramático. Conhecem Odulio Varela?, perguntaria o Gago Coutinho à nossa equipa perdida. Odulio era o capitão dos uruguaios no dia mais pungente do futebol mundial. Numa tarde de 1950, ele foi o patrão que calou o Brasil inteiro. À noite, os uruguaios foram para o hotel festejar. Mas Obdulio, sozinho e incógnito, foi para os bares do bairro da Lapa, ouviu-se insultado e nunca falou, viu chorar e deu o ombro, bebeu com todos. Alguém contou isto aos nossos rapazes? Ainda há tempo?
«DN» de 8 Fev 13

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