6.2.13

O mais inquietante artigo de ontem

Por Ferreira Fernandes
BONS tempos em que o sargento se apresentava "Mike O'Hara, do Ilinóis", ao desembarcar na Sicília e falando para documentários que lhe mostravam cara e nome e passavam nos cinemas americanos. Se lhe dessem tempo, ele dizia a rua onde morava em Springfield. Bons tempos em que os soldados embarcados em guerras longínquas estavam tranquilos com os seus. As quintas-colunas, a haver, era de espiões para recolher informações, não para matar familiares de soldados... 
Ontem, uma estranha reportagem no jornal francês Libération, cheia daqueles não ditos que só servem para sublinhar o significado dos silêncios. Título: "Os soldados franceses no Mali não têm nomes de família?" Pois não têm, confirmava o artigo. Capitão Pascal, tenente-coronel Frédéric... Explicação do Ministério da Defesa: "É para proteger as famílias." Mas as famílias também foram para o Mali, para as zonas de guerra? Não, claro, as famílias ficaram na França. 
O que a notícia anuncia, sem o dizer, é que os países europeus têm de fazer um esforço para fazer seus, indubitavelmente seus, os que habitam no país. E exigir que assim seja. Direitos e deveres, que têm de se meter nas consciências e costumes. A questão foi trazida a público porque era necessário uma mezinha para um problema de momento. Podia ter sido melhor o método, mas agora já se sabe: a questão existe. Jovens franceses a assobiar o hino francês já existe há muito. Mas só agora se entende o tamanho do facto.
«DN» de 6 Fev 13

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