O mais inquietante artigo de ontem
Por Ferreira Fernandes
BONS tempos em que o sargento se apresentava "Mike O'Hara, do Ilinóis", ao
desembarcar na Sicília e falando para documentários que lhe mostravam
cara e nome e passavam nos cinemas americanos. Se lhe dessem tempo, ele
dizia a rua onde morava em Springfield. Bons tempos em que os soldados
embarcados em guerras longínquas estavam tranquilos com os seus. As
quintas-colunas, a haver, era de espiões para recolher informações, não
para matar familiares de soldados...
Ontem, uma estranha reportagem no
jornal francês Libération, cheia daqueles não ditos que só servem para
sublinhar o significado dos silêncios. Título: "Os soldados franceses no
Mali não têm nomes de família?" Pois não têm, confirmava o artigo.
Capitão Pascal, tenente-coronel Frédéric... Explicação do Ministério da
Defesa: "É para proteger as famílias." Mas as famílias também foram para
o Mali, para as zonas de guerra? Não, claro, as famílias ficaram na
França.
O que a notícia anuncia, sem o dizer, é que os países europeus
têm de fazer um esforço para fazer seus, indubitavelmente seus, os que
habitam no país. E exigir que assim seja. Direitos e deveres, que têm de
se meter nas consciências e costumes. A questão foi trazida a público
porque era necessário uma mezinha para um problema de momento. Podia ter
sido melhor o método, mas agora já se sabe: a questão existe. Jovens
franceses a assobiar o hino francês já existe há muito. Mas só agora se
entende o tamanho do facto.
«DN» de 6 Fev 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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