3.2.13

As emoções que a República nos roubou

Por Ferreira Fernandes
TENHO de admitir que a monarquia tem uma vantagem teatral: nela, as sucessões parecem dramáticas. Desde logo, os reis não têm prazo. Não só eles se estendem por um tempo que acaba por lhes dar patine, como as suas sucessões acontecem geralmente de forma inesperada, por morte. Os protagonistas ganham assim alguma profundidade e o seu fim, aparência trágica. Já os presidentes são aborrecidos e previsíveis com as suas entradas e saídas em datas marcadas. A partida da Rainha Beatriz, da Holanda, que aos 75 anos anunciou deixar o trono para o filho, Guilherme-Alexandre, de 45 anos, poderia desmentir esta vantagem da monarquia. O anúncio só serviu para nos lembrar que havia aquela rainha e nos surpreender com a existência daquele príncipe. No entanto, essa sucessão sem história acabou por apontar os holofotes para dois palcos maiores onde dramas se desenrolam: Londres e Madrid. Será que a Rainha Isabel vai deixar pendurados os príncipes Carlos, filho, e William, neto, até ao seu jubileu de platina (70 anos de trono!), em 2022? Será que o príncipe Felipe não apunhalará pelas costas o seu pai, Juan Carlos, tal como este fez com o seu, o conde de Barcelona? Tanto Rei Lear nos telejornais! 
Ontem, o jornal El Mundo, a partir destes dramas, evocava a luta dos macacos pelo poder... Sorte a dos jornalistas nas monarquias. Com o glamour das coroas em disputa até nos conseguem convencer que os príncipes Carlos e Filipe são machos-alfa
«DN» de 3 Fev 13

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