As emoções que a República nos roubou
Por Ferreira Fernandes
TENHO
de admitir que a monarquia tem uma vantagem teatral: nela, as sucessões
parecem dramáticas. Desde logo, os reis não têm prazo. Não só eles se
estendem por um tempo que acaba por lhes dar patine, como as suas
sucessões acontecem geralmente de forma inesperada, por morte. Os
protagonistas ganham assim alguma profundidade e o seu fim, aparência
trágica. Já os presidentes são aborrecidos e previsíveis com as suas
entradas e saídas em datas marcadas. A partida da Rainha Beatriz, da
Holanda, que aos 75 anos anunciou deixar o trono para o filho,
Guilherme-Alexandre, de 45 anos, poderia desmentir esta vantagem da
monarquia. O anúncio só serviu para nos lembrar que havia aquela rainha e
nos surpreender com a existência daquele príncipe. No entanto, essa
sucessão sem história acabou por apontar os holofotes para dois palcos
maiores onde dramas se desenrolam: Londres e Madrid. Será que a Rainha
Isabel vai deixar pendurados os príncipes Carlos, filho, e William,
neto, até ao seu jubileu de platina (70 anos de trono!), em 2022? Será
que o príncipe Felipe não apunhalará pelas costas o seu pai, Juan
Carlos, tal como este fez com o seu, o conde de Barcelona? Tanto Rei
Lear nos telejornais!
Ontem, o jornal El Mundo, a partir destes dramas,
evocava a luta dos macacos pelo poder... Sorte a dos jornalistas nas
monarquias. Com o glamour das coroas em disputa até nos conseguem
convencer que os príncipes Carlos e Filipe são machos-alfa
«DN» de 3 Fev 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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