Ui, apanharam o guarda-livros!
Por Ferreira Fernandes
ESPANHA está mal consigo própria, os seus dirigentes (desta vez, da direita)
foram apanhados mais uma vez com a mão no "sobre". Em castelhano "sobre"
é envelope, apreciado pelos corruptos, que não gostam do dinheiro à
vista. Desta vez, os investigadores caçaram o homem central. Nem
ministro nem líder partidário, mas muito mais: caiu o guarda-livros.
Ninguém mais letal do que o homem das contas quando o segredo do negócio
é não contar nada. Ora, Luis Bárcenas, desde 1990 a 2008 gerente e
tesoureiro do PP, pôs-se a falar da forma mais perigosa que um
guarda-livros pode falar: com cadernos aos quadradinhos e números... O
jornal El País apanhou a referida arma, onde Bárcenas anotava, vindo de
empresários, dinheiro proibido pelas leis do financiamento de partidos, e
também pagamentos aparentemente não declarados a dirigentes. Ontem, a
edição online do jornal permitia, pondo-se o nome de um dirigente, que
se conhecesse a sua conta-corrente. O líder Mariano Rajoy, atual
primeiro-ministro, foi o mais procurado, e lá aparece o seu envelope
mensal. A oposição pediu a demissão de Rajoy e este já prometeu mostrar
as suas declarações de rendimentos (o que convence pouco porque a dúvida
não está nos rendimentos declarados mas nos outros).
A verdade é que o
político espanhol do momento não é um político, mas sim o contabilista
Bárcenas. Jake Guzik também nunca andava armado, mas era um chefão,
bastava-lhe ser o guarda-livros de Al Capone.
«DN» de 4 Fev 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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