19.2.13

Às vezes não temos resposta nenhuma

Por Ferreira Fernandes 
É DAQUELAS notícias que não dão para tirar uma lição: a culpa não é dos do Governo de agora, nem é dos de antes. É só uma notícia de domingo com passeios quase sem gente. 
O nepalês Narenda Giri, de 40 anos, subia a pé a lisboeta Conde Redondo. Podemos adivinhar a facilidade, um nepalês é da terra de trilhos e de xerpas. Diz a Internet: Nepal, retângulo quase perfeito como Portugal, medidas parecidas, 800 km de comprimento, 200 de largura. Só que deitado, não de pé como nós, em Norte-Sul, deitado para descansar antes de atacar os Himalaias. Ia Narenda, subindo, e veio uma carrinha do Exército, desgovernada. Podia ter varrido o passeio quase solitário mas atacou-o a ele. A carrinha arrastou Narenda e cortou-lhe as pernas contra a montra de uma loja chinesa. A loja chamava- -se Mercado da Amizade. Pouco depois - a família morava por ali - chegou a mulher, Gecta, e as duas filhas, Dibya e Dikshya, adolescentes. Dibya, de 15 anos, disse que tinham chegado a Lisboa nem há uma semana. A notícia, além de não mostrar culpados fáceis, é curta. Porque vem uma família de nepaleses para Lisboa? Se calhar também foram à Internet e acharam graça aos retângulos parecidos. Mas porque é que um nepalês que ainda há uma semana estava no teto do mundo há de se pôr entre uma carrinha desgovernada e a montra chinesa do Mercado da Amizade? 
Perguntas ociosas... Eu fujo é de outra: que vai fazer este nepalês, Narenda Giri, sem as duas pernas? 
«DN» de 19 Fev 13

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