18.3.13

A boa notícia que Gaspar não nos deu

Por Ferreira Fernandes
NO SÁBADO, Silvio Berlusconi entrava no Senado, em Roma, calcula-se com que gosto, o edifício chama-se Palazzo Madama. Um grupo insultou-o e ele voltou atrás e lançou: "Estúpidos!" Gostei, quando as matilhas uivam, tendo a gostar da vítima. Mas, lá está, a frase dele, de que gosto, não ajuda a explicar o que penso de Berlusconi, de quem não gosto. Uma frase é só uma frase. Outras vezes, porém, até uma não frase pode dizer-me tudo do autor. Houve recentemente um não dito de Vítor Gaspar que me desagradou de forma definitiva. Falava ele do desemprego, no meio de muitos outros números, todos eles referentes aos erros sucessivos das suas previsões. Pois bem, aquela tal frase não dita de Gaspar fez-me lembrar uma boutade de Clemenceau, grande político que dirigiu um grande país durante uma grande guerra: "A guerra é uma coisa demasiado grave para ser confiada aos militares." Ora aí está uma verdade crua: nos momentos mais graves os países não podem ser dirigidos por especialistas de saber seco. 
A frase de Clemenceau era sobre a prevalência da política e a obrigação dos outros macacos irem para o seu galho adequado. Como já disse, isso foi-me evocado pela tal não frase de Gaspar. Ele disse que os números do desemprego eram o seu "grande desapontamento". Mas, infelizmente, não disse o seu regozijo de português por poder anunciar de imediato - e não em previsão, porque sempre as erra - o seu desemprego.
«DN» de 18 Mar 13

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