6.3.13

Inveja? Só para outro tipo de gente

Por Ferreira Fernandes
ALGUMAS pessoas não gostaram por o ex-banqueiro, com reforma de 70 mil euros mensais, ter passado a líder de um Movimento dos Reformados Indignados. Contra esse não gostar que tomou várias formas - eu, aqui, fiz uma crónica - tem sido lançado um labéu comum: inveja. É uma acusação manhosa. Sabe-se que entre os sete pecados capitais há quem aceite e até proclame ser guloso, avaro, vaidoso, inclinado para os prazeres da carne, preguiçoso e colérico. Invejoso é que não: sê-lo passa por ser uma declaração pública de inferioridade. Cada um saberá porque não gostou do ex-banqueiro naqueles preparos de vítima e combatente de causa. Eu, que não gostei e disse, volto para me desfazer da acusação de inveja. Eu, invejoso, neste caso? Não sou tão modesto como isso, outro meu pecado capital, o orgulho, impede-me. A inveja é sempre uma espécie de homenagem e, francamente, guardo a minha inveja para outros patamares. Invejei Sam Mendes por isto e aquilo, qualidades que lhe deram o olhar de Kate Winslet, que eu nunca tive. Invejo a capacidade de Luis Fernando Veríssimo de pôr gente a dialogar como gente. Invejo quem construiu fortuna honestamente e faz só o que quer, e eu não posso... Mas não, não invejo aqueles que devem as suas extravagantes reformas a favores de pequeno grupo que se autoprotegeu. Gostaria também de ter 70 mil euros por mês? Sim, mas não ao preço da admiração pelo pior que o Portugal dos privilégios criou.
«DN» de 6 Mar 13

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