Inveja? Só para outro tipo de gente
Por Ferreira Fernandes
ALGUMAS pessoas não gostaram por o ex-banqueiro, com reforma de 70 mil euros
mensais, ter passado a líder de um Movimento dos Reformados Indignados.
Contra esse não gostar que tomou várias formas - eu, aqui, fiz uma
crónica - tem sido lançado um labéu comum: inveja. É uma acusação
manhosa. Sabe-se que entre os sete pecados capitais há quem aceite e até
proclame ser guloso, avaro, vaidoso, inclinado para os prazeres da
carne, preguiçoso e colérico. Invejoso é que não: sê-lo passa por ser
uma declaração pública de inferioridade. Cada um saberá porque não
gostou do ex-banqueiro naqueles preparos de vítima e combatente de
causa. Eu, que não gostei e disse, volto para me desfazer da acusação de
inveja. Eu, invejoso, neste caso? Não sou tão modesto como isso, outro
meu pecado capital, o orgulho, impede-me. A inveja é sempre uma espécie
de homenagem e, francamente, guardo a minha inveja para outros
patamares. Invejei Sam Mendes por isto e aquilo, qualidades que lhe
deram o olhar de Kate Winslet, que eu nunca tive. Invejo a capacidade de
Luis Fernando Veríssimo de pôr gente a dialogar como gente. Invejo quem
construiu fortuna honestamente e faz só o que quer, e eu não posso...
Mas não, não invejo aqueles que devem as suas extravagantes reformas a
favores de pequeno grupo que se autoprotegeu. Gostaria também de ter 70
mil euros por mês? Sim, mas não ao preço da admiração pelo pior que o
Portugal dos privilégios criou.
«DN» de 6 Mar 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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