19.5.13

Um problema enrolado e fino

Por Ferreira Fernandes
HÁ POVOS delicados. Por cá, queixamo-nos da falta de papel (que papel? O papel: pilim), mas os venezuelanos exigem-no mais fino: "A revolução trará para o país 50 milhões de rolos de papel higiénico para que o nosso povo compreenda que não deve deixar-se manipular por campanhas mediáticas dizendo que há escassez", disse esta semana o ministro do Comércio venezuelano, Alejandro Fleming. Aparentemente a manipulação dos venezuelanos gira sempre à volta de produtos ligados à celulose: ontem, eram votos, mal contados, segundo a oposição; agora, o papel higiénico, sujeito a boatos, segundo o Governo. Esta última questão lança uma dúvida terrível sobre a inteligência dos venezuelanos: se a escassez é um boato, como é que o povo não teve olho para notar que o produto, afinal, havia? Aliás, é ingénuo acreditar em jornalistas que propagandeiam a falta de papel higiénico quando eles próprios são fornecedores de um produto concorrente. Em todo o caso, fica bem ao Governo venezuelano, apesar de ciente de que tudo era campanha, insistir em importar o papel higiénico (quase dois rolos por venezuelano). 
Mais uma vez o contraste connosco é notório: os nossos governantes fazem o problema a montante, já os governantes bolivarianos ajudam a resolvê-lo a jusante. E engana-se quem considera que esta questão nem devia ser noticiada: tal como a liberdade, só nos damos conta da verdadeira importância do papel higiénico quando não há. 
«DN» de 19 Mai 13

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