25.7.13

O campeão era 'gay'

Por Ferreira Fernandes
MORREU anteontem Emile Griffith, o boxeur. Eu tinha uma vaga lembrança, e antiga. Recorro ao New York Times para aclarar o morto. Exato, esse Griffith!, reconheci-o às primeiras linhas. Matou o adversário num combate para campeão mundial dos meios médios. Agora até posso ver o combate, há vídeo. Num sábado de 1962, o ringue do velho Madison Square Garden, em Nova Iorque, com transmissão televisiva. À esquerda, calções brancos, o campeão Kid Paret, cubano; à direita, calções negros, Griffith, o pretendente americano. Era o terceiro combate entre eles, em sucessivos trocas do cetro mundial. Agora, até ao 12.º round, a mesma partilha de poderio. Mas, eis que Griffith encosta o outro às cordas de um canto. Quem sou para contar, quando Norman Mailer estava, claro, na primeira fila? "O punho direito bate como um bastão de basebol demolindo uma abóbora." O vídeo confirma e permite o horror doentio da repetição... O árbitro agarra e afasta Griffith e Kid Paret desliza para o tapete - irá morrer dez dias depois no hospital. 
Durante algum tempo, a América discute o boxe e depois esquece. Griffith vai partir para outro combate... que afinal já começara. Antes de subirem ao ringue, Kid Paret lançara-lhe, desdenhoso: "Maricón!" Há muito que se dizia que Griffith era gay, e era. Numa biografia publicada em 2008, o velho boxeur resumiu os dois combates da sua vida."Matei um homem e fui desculpado, amei um homem e nunca me perdoaram."
"DN" de 25 Jul 13

Etiquetas: ,