9.7.13

Vou Expatriar-me

Por Maria Filomena Mónica 
CORTEI relações com o país onde, por acaso, nasci, pelo que estou a pensar ir viver para uma off shore. Antes, tenho de procurar saber o que isso é e onde fica. Mas a decisão está tomada. Se já andava furiosa com o Dr. Gaspar, o que se passou após a sua demissão fez extravasar o copo da minha paciência. 
Devo confessar que, a não ser quando batem à minha porta ou mexem no meu bolso, a política partidária não me interessa. Eis que, no dia em que a Dra Maria Luís Albuquerque tomou posse de Ministra das Finanças, recebi um papelucho, com o carimbo do seu pelouro, onde se dizia ter eu de pagar, por conta de IRS, 1.669,00 Euros. O que me fez chegar a mostarda ao nariz não foi isto, mas o que vinha em baixo: «A imputação dos pagamento por conta ao titular do rendimento não exclui a responsabilidade de ambos os cônjuges pelo pagamento final do imposto, nos termos do artigo 21º da Lei Geral Tributária». 
Portugal é um dos poucos países europeus que, do ponto de vista fiscal, aplica, de forma compulsiva, o conceito de unidade familiar. Há anos que esperneio contra o facto de ter de preencher o formulário do IRS em conjunto com o meu marido. Ter de preencher é uma forma abusiva de falar, visto que quem o faz não sou eu, nem ele, mas uma contabilista, a qual procede a uma simulação, como se fossemos solteiros, pelo que cada um paga de acordo com o que recebe. 
Dado que não sei quanto o meu marido ganha e vice-versa, o status quo poderia deixar-me indiferente. Mas arrepela-se-me a alma sempre que o Estado me obriga a fazer coisas estúpidas. Já pedimos a vários Ministros das Finanças para, mesmo perdendo dinheiro, nos deixar preencher, em separado, a folhinha. Julgam que alguém nos respondeu? Se julgam, enganam-se. Curiosamente, a única instituição que me apoia é o FMI. 
Farto de ouvir reclamações, o meu marido perguntou-me se quereria figurar como cabeça de casal. Não, a última coisa que desejo é ser cabeça seja de quem for. Quero manter a minha, isoladinha, desejando que o cônjuge proceda de igual forma. Haverá quem me pergunte quais os motivos que me levaram a casar. A explicação seria longa, mas está relacionada com a forma como o Estado interfere nas nossas vidas. Já fui casada pela Igreja, já vivi em união de facto e agora estou casada pelo civil. Não notei diferenças, mas reparei numa semelhança: em todas as situações, houve sempre a intromissão do Estado. Quando nasci, deram-me uma cédula individual, quando me diplomei, ofereceram-me um rolo com o meu nome, quando pude votar, deram-me um cartão intransmissível. Por que diabo terei de dar contas às Finanças em conjunto? 
Nada herdei, o que só me fez bem. O que tenho é fruto do que poupei, enquanto o Estado português não entrou no delírio que levou a um corte de 40% na minha reforma. Em certos círculos intelectuais, há quem diga que o dinheiro não traz a felicidade. A questão está mal posta. Como a minha mãe e a minha avó sabiam, só o dinheiro nos dá a possibilidade de ser independente. E, na vida, é isso que conta. 
 «Expresso» de 6 Jul 13

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3 Comments:

Blogger José Batista said...

Caríssima Professora Maria Filomena

Sinto-me no dever de pedir encarecidamente a todas as pessoas de bem que se fartam cá do rectângulo, que eu admito que sejam todas as que são realmente boas, sérias e úteis, segundo critérios de elementar bom senso e decência, que não abandonem este mal fadado espaço, seja para que sítio for, porquanto, por cada um que sai aumenta o peso relativo daqueles que fazem disto um lugar mal frequentado, sofrido e mal reputado.
Esses é que podiam ir para um "off shore", já que inventaram e puseram em prática o conceito, ou para destino equivalente, onde ficassem para sempre, todos juntos.
Disse.

9 de julho de 2013 às 20:04  
Blogger Bmonteiro said...

Pagar, porque não?
Embora de valor reduzido,
a contribuir para as pensões especiais dos nossos 400 estimados reformados da política.
Como pagar 2 a 3 mil euros mês a tais carenciados?

10 de julho de 2013 às 20:55  
Blogger Agostinho said...

Carenciados uma gaita!
Só se for de vergonha. Pelas cenas que protagonizam se fosse noutro lado, no mínimo, eram internados compulsivamente em psiquiatria.

11 de julho de 2013 às 01:23  

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