3.8.13

É como brincar aos jornalismozinhos

Por Ferreira Fernandes 
DUROU uma semana para lá chegar mas aquela notícia aterrou, enfim, no sítio certo. Uma jornalista da Folha de S. Paulo escreveu ontem sobre a frase de Cristina Espírito Santo. Lembro, numa reportagem da revista do Expresso, na semana passada, aquela habitante da Comporta, disse que viver ali, praia de ricos portugueses mas rústica, "é como brincar aos pobrezinhos". A coisa, lida longe, noutro hemisfério, pode prescindir do contexto, ir direito ao simbólico: uma herdeira rica, num país em crise, finge de pobre, como todos os hippies chiques. Com tão grande quilometragem entre os factos e os leitores, o que interessa é sublinhar o exótico. Então, longe, em São Paulo, a frase da ricaça foi merecidamente uma história gira. Mas, por cá, é necessário outro balanço: mais uma vez, polémica fiada. O erro de Cristina Espírito Santo não foi ter dito a frase, mas tê-la dito a um jornalista, arriscando a que ela caísse num pedestal onde seria, solitária, sujeita a todos os holofotes. E foi assim que a frase foi publicada sob a forma a que o jornalismo, não sem razão, chama "destaque". Pouco importa que o jornalista, no texto e de passagem, refira o tom de brincadeira da conversa. Ninguém ligou. E pouco me importam as desculpas que a própria Cristina deu, já o escândalo ia alto - não costumo ligar às palavras de quem está refém. Cá, não foi uma história gira, foi sanha contra uma pessoa com o azar de ter um nome que estava a pedi-las.
«DN» de 3 Ago 13

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