29.9.13

O que é reflexão num país tão baço?

Por Ferreira Fernandes
ONTEM era dia para eu refletir, disse-me a Comissão Nacional de Eleições (CNE). Cumpri e hoje sentia-me especialmente preparado para cronicar. Mas a CNE deu-me outra ordem: hoje não posso dizer coisas! Valeu-me de muito ter pensado durante todo o dia de ontem... Os fins de semana de eleições estão cheios de ordens irrefletidas, acho eu. Se queriam que fosse uma jornada simples e útil pediam um "dia para pensar". Mas não, decidiram pôr os portugueses em desacordo: sabe-se que ortograficamente uns "refletem", outros "reflectem". Depois, o costume, atiraram logo com exigências exageradas. Refletir em superfícies espelhadas é fácil, mas tentam fazê-lo num país cada vez mais baço. E, já agora, porque estamos a falar da CNE que tem a mania que é isenta: "reflexão" não é a palavra adequada. Arriscam-se a que os presidentes de câmara que se recandidatam impugnem as eleições se a coisa lhes correr mal. Eles podem dizer que a CNE fez apelo a que se "retroceda, mudando da anterior direção", definição que todos os dicionários têm (também) para reflexão. Porque é que a CNE não deu ordens sem ambiguidades, como "pensem", "ponderem", "meditem à séria"? Acresce que "reflexivos", como nos pediram para estarmos hoje ao votar, é desnecessariamente próximo de "reflexos", que é reagir involuntariamente. A CNE sugere que é isso que vamos fazer: votar como o estertor de uma pata de rã? Há matéria para a CNE ser processada pelos eleitores.
«DN» de 29 Set 13

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