4.9.13

Para acabar com as duas crises do verão

Por Ferreira Fernandes
DE QUE ESTAMOS a falar quando falamos de piropo? Do chefe que obriga a datilógrafa a fazer horas extraordinárias e lhe lança: "Comia-te toda, não, vou mesmo comer-te!", a apalpa, viola, corta-a aos bocadinhos e espalha os pedaços pelos caixotes de lixo do bairro? Ou falamos do rapaz que olha para a colega - piropo supremo: não falam tanto os olhos? - antes de enrubescer e desviar o olhar? Todos os piropos estão algures entre esses dois extremos e cada caso exige resposta própria. Contra o primeiro até pode ser uma ação punitiva de Barack Obama, mesmo unilateral - eu não me oporia. Claro que exigiria antes provas, não me bastaria que os americanos dissessem: foi piropo. É que piropo, como já disse, pode ser aquele olhar tão falador do rapazinho, que deu azo a um ainda mais loquaz olhar da miúda, e, piropo puxa piropo, casam-se e são felizes. Para além, claro, de parte da tão necessária luta contra a desertificação do país ter começado com um piropo. Logo, e como muito bem disse o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, ontem, é preferível uma solução política a uma intervenção militar. Embora ele falasse da Síria e não do piropo, os dois casos podem ter abordagens similares. Aquela "linha vermelha não ultrapassável", referida por Obama, é uma boa ideia também para os piropos: um piropo tem de ser sempre uma forma de comunicação entre iguais. Qualquer violação dessa linha vermelha está pedi-las - de bombas a um par de bofetadas.
«DN» de 4 Set 13

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