10.10.13

Se me dão licença, não, não foi em Marte

Por Ferreira Fernandes
QUATRO tipos sobem para o tejadilho do carro, põem-se nus e dançam. Outro filma-os e o vídeo aparece na Net. Calculem o sofrimento horrível do capô, espezinhado pelos brutos. Felizmente há leis na Arábia Saudita e os energúmenos foram condenados, cada um, a 2000 chibatadas e a dez anos de prisão. 
Por seu lado, Fayhan al-Ghamdi, predicador islâmico muito popular pelas suas aparições televisivas, andando preocupado com a virgindade da sua filha Lama, de cinco anos, partiu-lhe costelas, esmagou-lhe o crânio, queimou-lhe o ânus e matou-a. Segundo a notícia da CNN, exames médicos comprovaram o horror no tribunal e Fayhan al-Ghamdi confessou. Não ficamos a saber, porém, se a menina se arrependeu por ter atormentado o pai, único refrigério em toda esta triste história, já que o pobre homem quando predicava insistia nos prémios a que conduz o arrependimento perante Deus. Adiante. O tribunal decidiu: 600 chibatadas e oito anos de prisão. 
Não me cabe tentar fazer Direito Comparado, cada povo é um povo e os outros são geralmente estranhos. Mas por mera cultura geral é bom saber que, algures, um capô amolgado vale mais dois anos de prisão e 1400 chibatadas do que uma menina torturada. O predicador já o devia saber e por isso não praticou as sevícias em cima do carro. Mas, na verdade, não tiro grande conclusão sobre ele, malucos há em todos os lugares. Já os critérios daqueles tribunais, há muito que os tomei como assunto pessoal.
«DN» de 10 Out 13

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