«Dito & Feito»
Por José António Lima
Cavaco Silva mostrou-se «surpreendido por Portugal ser um pouco a
excepção» à prática existente noutros países europeus «e até na nossa
vizinha Espanha, de diálogo frutuoso entre as diferentes forças
políticas».
E manifestou a esperança de que o Governo e a Oposição
«acabem por reconhecer, perante a realidade dos factos, que é necessário
que se sentem à volta da mesa e cheguem a um entendimento de médio
prazo».
É louvável o continuado esforço do Presidente da
República. Mas Belém já deve ter reparado que António José Seguro não
está mesmo nada para aí virado, convicto de que só se manterá na
liderança do PS e só chegará um dia ao poder se rejeitar todo e qualquer
compromisso ou negociação com o Governo. Diálogo, para já, só de
surdos.
Por outro lado, Cavaco Silva veio revelar-se espantado com
os cenários que lhe apresentam de eleições antecipadas: «Já disse que é
bom que Portugal seja na Europa um país normal e o normal na Europa, de
que nós fazemos parte, é os mandatos dos Governos serem cumpridos» até
ao fim. Caso contrário, não deixou de salientar o Presidente, «os outros
olham para nós e os mercados também e dizem ‘aquele país até parece
ingovernável’».
Aqui chegados, torna-se um pouco difícil seguir a
lógica e a coerência do raciocínio de Cavaco Silva. Não foi ele quem
propôs, no início do Verão, ainda não há seis meses, um ‘compromisso de
salvação nacional’ entre PS, PSD e CDS que passava pela marcação de
eleições antecipadas para 2014 e a manutenção, até lá, de um Governo a
prazo, ferido de morte e sem autoridade política?
Nesse cenário,
arquitectado por Belém e levado à cena pelo próprio Presidente, ‘os
outros e os mercados’ não iam achar o país ingovernável? Portugal, que
ia acrescentar eleições e incerteza política à crise económica e
financeira, não seria visto como «um país anormal dentro da Europa»?
Cavaco
Silva terá, seguramente, respostas para estas perguntas. Para já, pode
ter a certeza de que o PS só despertará para a necessidade de
entendimentos políticos a prazo no dia em que chegar ao Governo e se vir
obrigado a aplicar as directivas de Bruxelas.
«SOL» de 8 Nov 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
1 Comments:
Cavaco Silva sempre foi um político contraditório. Nada de novo.
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