15.12.13

“E assim, acontece”

Por A. M. Galopim de Carvalho

“E ASSIM, ACONTECE” era a frase com que Carlos Pinto Coelho rematava as emissões do seu magnífico magazine cultural na RTP 2.
Completam-se hoje, dia 15 de Dezembro de 2013, três anos sobre o falecimento do saudoso autor e apresentador do também saudoso ACONTECE, iniciado em 1994 e estupidamente extinto em 2003. O ministro da tutela, Morais Sarmento criticara a quantidade de dinheiro gasto para produzir o programa, dizendo “ser mais compensador oferecer uma volta ao Mundo a cada espectador”. Na sequência, o presidente da RTP, Almerindo Marques, anunciava o fim do programa.
No dia do seu funeral, ainda sob a comoção do seu súbito e doloroso desaparecimento, escrevi no «sopasdepedra» e no «sorumbático»: “Acontece a todos. Uns hoje, outros amanhã. Sempre assim foi e assim será. Foi agora a tua vez. Amanhã será a dos que te viram partir. De todos, sem excepção. Dos bons como tu, que fazem falta à sociedade e que nós desejaríamos ter por cá muito mais tempo, e dos outros, incluindo os que não prestam, como aqueles que, estupidamente, te cilindraram na RTP, privando-nos do único e, até hoje, o melhor programa cultural televisivo em Portugal, e aqueles que, afastada a rapaziada que sancionou esse atentado à inteligência, não quiseram ou não souberam ir buscar-te e repor-te no lugar de onde nunca devias ter saído”...”Vais deixar saborosas saudades em muitos dos teus concidadãos e eu sou um deles. É um privilégio póstumo de que nem todas as almas se podem gabar. Mas com a tua, isso acontece”.
Carlos Nuno de Abreu Pinto Coelho, de seu nome completo, nasceu em Lisboa a 18 de Abril de 1944. Foi um jornalista de muito prestígio, professor de jornalismo durante dois anos na Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Tomar, tendo revelado notáveis aptidões para a fotografia e a literatura.
Viveu em Moçambique desde a idade de um ano até aos dezoito, em 1963, tendo regressado a Lisboa para cursar Direito, licenciatura que abandonou a poucas cadeiras de concluir a licenciatura.
A sua carreira de jornalista iniciou-se, em 1968, como repórter, no Diário de Notícias, e prosseguiu como um dos fundadores do Jornal Novo, redactor da Agência Noticiosa de Informação (ANI), correspondente em Portugal da rádio Deutsche Welle e redactor da revista Vida Mundial, dirigida pela igualmente saudosa Natália Correia. Na RTP foi director-adjunto de informação da direcção, chefe de redacção da Informação/2, director de programas e director de Cooperação e Relações Internacionais. Na rádio, deixou obra na TSF, na Rádio Comercial, na Antena 1 e na Teledifusão de Macau.
Numa carreira de pouco mais de três décadas, o autor do ACONTECE foi conferencista no Instituto de Altos Estudos Militares, membro do Conselho de Administração da Europa TV, coordenador dos Encontros de Televisões de Língua Portuguesa, presidente dos Comités Est-Ouest e Nord-Sud da Université Radiophonique et Télévisuelle Internationale, representante da RTP nos Comités de Informação e de Programas da União Europeia de Radiodifusão, da União das Rádios e Televisões Nacionais de África e da Organização das Televisões Iberoamericanas, representante do Ministério da Cultura na Reunião de Televisões Ibéricas, júri dos Prémios Emmy de Jornalismo de Investigação e dos Festivais de Cinema de Troia, Fantasporto, Cinanima e ICAM.
Pela vultuosa e útil obra que realizou, este nosso amigo foi distinguido como comendador da Ordem do Infante D. Henrique, oficial da Ordre des Arts et des Lettres do Ministério da Cultura da França, Prémio Bordalo, na categoria de Televisão, pela Casa da Imprensa, o Grande Prémio Gazeta, do Clube dos Jornalistas e o Prémio Carreira Manuel Pinto de Azevedo Jr., de O Primeiro de Janeiro.
Hoje, mais do que nunca, sentimos a sua falta.

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1 Comments:

Blogger 500 said...

Isso da Cultura, interessa a quem? É melhor assistir aos diversos programas chungas, em directo, que invadiram todas as tvs, a começar pela RTP1. Como dizia um locutor desportivo: "é disto que o meu povo gosta". E convém (?) que continue a gostar só disso. Um dia é capaz de enjoar...

16 de dezembro de 2013 às 21:28  

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