Humor abjeto com humor se paga
Por Ferreira Fernandes
Em França, continua a campanha governamental contra um humorista que faz do ataque aos judeus o seu fundo de comércio. Ele é negro e muito popular entre os emigrantes de segunda geração, blacks (negros) e beurs (muçulmanos), e é também amigo da Frente Nacional, de Le Pen, de extrema-direita, partido a que as sondagens auguram um próximo grande sucesso. Valls (o ministro do Interior) tem proibido os espetáculos de Dieudonné (o humorista), que respondeu fazendo-se de vítima por lhe cancelarem o ganha-pão. Entretanto já estamos perante um facto inédito na sociedade francesa: a extrema-direita, que já engolira parte da base eleitoral operária dos comunistas, acaba de fazer a sua primeira aliança com os jovens muçulmanos radicais. O que os une é uma falsa crítica ao "sistema", onde "o judeu" dominaria a banca e as televisões... - a Europa já pagou caro esse discurso, mas é próprio dos fantasmas ressuscitarem. Como símbolo, Dieudonné popularizou a quenelle, gesto a meio caminho da saudação nazi - todo um programa... Se a ação governamental tem sido desajeitada, as mordeduras de Dieudonné têm sido curadas com pelo do mesmo cão: tem havido notáveis sketches de humoristas. O meu preferido foi o de Élie Semoun, um judeu companheiro de Dieudonné durante 15 anos de digressões. O registo de Semoun foi o de um tipo ferido pelo ruir moral de um amigo: a superioridade do humor triste sobre o humor abjeto...
"DN" de 13 Jan 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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