9.1.14

Sócrates, onde estavas no 23/7/66?

Por Ferreira Fernandes 
Intrujão, pantomineiro, aldrabão, farsolas, sicofanta, maltês, embusteiro, impostor, falso, peteiro, trapaceiro. Enfim, Sócrates. Sócrates, o Pinóquio. A última: perguntado sobre Eusébio, ele reconstruiu a História. Disse que no Portugal-Coreia do Norte, em 1966, saiu de casa, na Covilhã, já Portugal perdia e quando "ia para escola" ouvia os golos de Portugal. Chegado à escola, já Portugal ganhava. Relato vulgar. Só que, neste país de grande jornalismo de investigação e de sucessos de PJ que deixam boquiaberto o Mundo (o país onde os mentirosos não são coxos, são tetraplégicos), logo o intrujão, pantomineiro, aldrabão, farsolas, sicofanta, maltês, embusteiro, impostor, falso, peteiro, trapaceiro, enfim, o Pinócrates, foi apanhado: o dia do jogo, 23 de julho, calhou nas férias grandes, quando não havia aulas. E como entre nós as investigações são como as cerejas, logo outra profunda averiguação revelou: 23 de julho foi sábado! E sábado à tarde (um analista em Tempo Médio de Greenwich conseguiu a hora do começo do jogo: 15.00)! Eh,eh,eh, o gabiru ficou cercado pela verdade dos factos... Mas, vão ver, o manhoso vai escapar como de costume: logo aparecerá um colega a dizer que os garotos de oito anos na Covilhã se reuniam no pátio da escola, até aos sábados e nas férias. Malandro, o Pinócrates, por isso disse que "ia para a escola", não "para as aulas"... Sempre com esquemas e álibis. Mas não é isto prova de farsante?! 
«DN» de 9 Jan 14

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10 Comments:

Blogger José Batista said...

Ah! Ah! Ah!

E mesmo que tivesse calhado a um domingo, havia de aparecer alguém a dizer que os garotos da Covilhã se reuniam no recreio da escola até aos domingos de tarde, durante as férias. Alguém ou... o próprio.

Coitado de quem atura mentirosos, mentem uma vez mentem sempre.
Mas, entre nós, ainda que um mentiroso minta minta minta, haverá sempre que o ache um tipo com pinta.
E o julgue muito competente para... governante, ou deputado ou assim...

Parabéns, o texto está um espanto.

9 de janeiro de 2014 às 19:59  
Blogger Agostinho said...

A história do pastor e do lobo?
Poderá ser. Acólitos? Poderá haver.

Não sou da Covilhã e tive aulas ao sábado. De manhã. À tarde era a bufa (MP). Em Julho recordo-me das férias grandes.

O maralhal ter um sítio onde se juntava para dar chutos na pelota?
Claro que tinha. Cada tribo tinha o seu poiso: na rua, na escola, em campo de futebol (com autorização prévia). Em casa é que não.
Conclusão: poderia ir para a escola brincar, não para as aulas.

Porém moral da fábula é que o pastor uma vez fiteiro ...

10 de janeiro de 2014 às 01:19  
Blogger Serafim said...

eh, eh, afinal a licenciatura ao sábado veio na sequência da instrução primária também ao sábado. Nada como ser coerente com as mentiras

10 de janeiro de 2014 às 09:02  
Blogger brites said...


escorregaram na banana...

10 de janeiro de 2014 às 10:10  
Blogger Manuel Tiago said...

Excelente artigo.
Só o Zé Batista não entendeu.

Define primorosamente o que é o Passos Coelho, Farsola de Massamá:
intrujão, pantomineiro, aldrabão, farsolas, sicofanta, maltês, embusteiro, impostor, falso, peteiro, trapaceiro.

Como a outra face da mesma moeda, o saudoso Miguel Relvas.

10 de janeiro de 2014 às 19:11  
Blogger José Batista said...

A suprema ironia coincide (apenas) com a verdade.
O artigo está um espanto, em sentido literal.

E faz(-me) vontade de rir. Ainda agora, ao voltar a lê-lo.

E nada me incomoda que alguém se engane com a verdade (incluindo a si próprio, se for o caso), o que, aliás, é trivial.

Ente um retinto aldrabão e outro aldrabão retinto, escolha quem quiser o que preferir. Pela minha parte dispenso ambos.

10 de janeiro de 2014 às 23:06  
Blogger Manuel Tiago said...

Para o Zé Batista, a última crónica do FF, para ver se destrinça entre ironia e doença.

• Ferreira Fernandes, Sobre a doença:

‘Agora, devagarinho. Esta crónica não é sobre Sócrates. Aliás, a de ontem também não. Esta crónica é sobre uma doença mental. E a de ontem também. Esta semana, Sócrates falou, como tanta gente, sobre Eusébio e "eu". Não disse nada de empolgante: que foi na escola que ele comemorou, tinha 8 anos, o jogo Portugal-Coreia do Norte. Sobre o âmago do assunto, Eusébio, li muito melhor. Na caixa de comentários do Guardian, um leitor lembrou a história que o seu pai sempre contara: que, em miúdo, vira o Eusébio no estádio de St. James" Park, em Newcastle, jogar de luvas, "era a primeira vez que via neve", e marcar um belo golo de livre. No domingo, o filho disse ao pai que o "grande homem" morrera. Então, o pai repetiu a história e os por-menores. Ora, no ano passado, o Benfica jogou com o Newcastle e o filho soube que o Benfica e Eusébio nunca tinham estado em St. James" Park. No domingo, o filho rematou: "Não tive a coragem de dizer ao meu pai a verdade." Ele escreveu heart, que em inglês quer dizer, além de coragem, coração. Reparem, ele não cobrava ao pai a inverdade, o pai baralhara memórias, como tantas vezes fazemos às antigas e por vezes às mais queridas. José Sócrates não baralhou a memória, o essencial do que disse já se confirmou - alguns garotos da Covilhã iam para o pátio da escola mesmo aos sábados e nas férias. O problema aqui não é Sócrates e o seu testemunho vulgar. O problema foi o alarido sobre esse nada. Esse nada, nada. Cometeram-no um diretor de jornal, um eurodeputado, blogues e o jornal mais vendido, patrulhando uma memória velha de 47 anos do que aconteceu a um miúdo de 8. Mesmo se ele se tivesse enganado merecia só um sorriso. A sanha persecutória, essa, sim, é doentia. Aliás, ela é a doença. Uma obsessão. Há três anos, ela diabolizou um lado a ponto de ter impedido o que era então necessário e o Presidente diz, só agora, ser necessário: um esforço conjunto para combater a crise. A doença já nos cegou uma vez. E a minha memória é exata.’

11 de janeiro de 2014 às 00:18  
Blogger José Batista said...

Este comentário foi removido pelo autor.

11 de janeiro de 2014 às 16:28  
Blogger José Batista said...

Oh! Oh!

Exactas memórias.
Em busca do tempo perdido?
Doenças,doenças há muitas...
Eu, por exemplo, sofro (ainda, e muito) com o mal que me fizerem e ao meu país. Fizeram e continuam a fazer. E isso eu não agradeço.
E depois, há sempre quem insista em dar lições... que ninguém pediu.
Para quê pôr verniz em certos tipos, se, à vista, salta sempre o que está por baixo? Isso é que é, para mim, o verdadeiro alarido.
Mas a liberdade é isso mesmo.
Ponto final.

11 de janeiro de 2014 às 16:32  
Blogger Manuel Tiago said...

Carlos Medina Ribeiro
Estranho, gostar tanto das crónicas do Ferreira Fernandes e não ter publicado a intitulada "Sobre a doença".
Estranho, ou talvez não...

13 de janeiro de 2014 às 11:43  

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