Da Covilhã à Lourinhã, pelos caminhos da vida e da política – Crónica
Por C. Barroco Esperança
O tenente Gaspar, farto de perder noites a manter-me detido, a dar-me conselhos, até de madrugada, a advertir-me de que não devia andar com oposicionistas, mudou de tática e ordenou ao 35, conhecido esbirro da PSP, autorizado a trajar à civil, que me aguardasse à saída da pensão, depois do almoço, para me solicitar diariamente a identificação.
Foram dias sucessivos em que o biltre me pediu o nome, filiação, naturalidade, morada e profissão, numa manobra intimidatória que visava afastar-me do grupo do Dr. Raposo de Moura. De tantas vezes repetir o monótono inquérito, de que fingia tomar nota num caderno, a ocultar a vergonha de me encarar, um dia, quando chegou à profissão, acabou o interrogatório a perguntar-me: «o Sr. professor é caixeiro viajante»?
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