Outro exemplo do trouxe-mouxe
Por Ferreira Fernandes
Ontem falei do país que somos a trouxe-mouxe. Fiz contínuas alusões às
praxes, palavra também com X, a letra incógnita. Paga para resolver
incógnitas, a polícia de investigação é um dos sectores mais
trouxe-mouxados.
No famigerado caso do Meco também para aí caminhamos.
Um grupo de sete jovens foi à praia do Meco e a excursão noturna acabou
em tragédia: seis foram tragados pelo mar. Dias depois, o presumível
acidente começou a encher-se de mistérios. Os jovens estavam ligados a
praxes académicas - que, entre outras coisas, têm atividades absurdas - e
foram vistos horas antes a praticar coisas tão esquisitas como rastejar
com as pernas amarradas a pedras. Às coisas absurdas e esquisitas
podemos, em geral, encolher os ombros. Porém, quando elas precedem a
enormidade da morte de seis jovens, exige-se aos especialistas de
mistério que o resolvam. A polícia devia ter agido logo. Havia a sorte
de existir uma testemunha. Qualquer polícia que não fosse a trouxe-mouxe
saberia, primeiro, da urgência em conversar com ela. Uma testemunha a
quente trabalha-se, mas a frio (de mês e meio!) encolhe-se na carapaça
que julga conveniente. E, segundo, uma polícia eficaz saberia conversar.
Saber conversar com testemunhas é dos saberes mais preciosos de uma boa
polícia. Teríamos no fim dessa diligência a convicção ou de ser boa a
hipótese do acidente ou de haver contradições na testemunha. Receio que
fiquemos com mais uma nebulosa às costas.
«DN» de 6 Fev 14
Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Como é da praxe.
E dos "praxenetas".
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