Mafaldinha, a comentadora
Por Ferreira Fernandes
A semana foi também de Quino, o cartunista argentino que ganhou o prestigiado Prémio Príncipe das Astúrias. Ele é o "pai" de Mafalda, uma garota que há 50 anos se pôs a olhar o mundo e a dizer coisas simples e pertinentes. A banda desenhada de Mafalda estreou-se em 1964 e acabou em 1973. O mundo de então parece datado, apanhou a meio o Maio de 68. Mas valia a pena revisitá-lo ontem, dia de reflexão. Mafalda surpreende, afinal, pela atualidade. Há um cartoon em que a menina ouve no rádio: "O Papa fez uma chamada à paz..." Ao que ela responde: "E deu ocupado como sempre, não é?", como diria ontem, porque o Papa Francisco fez a mesma "chamada", infrutífera, na visita ao Próximo Oriente. Em outro cartoon tão atual, a menina inventa que é Presidente. A mãe diz-lhe: "Mafalda, apanha a roupa que deixaste no chão!" Ao que ela responde: "Não tenho de obedecer a ninguém, mamã, eu sou o Presidente!" E a mãe, com argumento tão moderno tantas décadas depois: "E eu sou o Banco Mundial e o FMI!"... Mas o que eu mais gosto é do cartoon inicial de Mafalda, o primeiro publicado. Ela comove-se com a mãe que lhe parece triste por ela ir pela primeira vez para a escola: "Sabes, mãe? Quero ir para o jardim-escola, estudar muito, ir para a universidade e não ser uma mulher frustrada como tu..." A menina julga que animou a mãe... É tão pungente o otimismo da geração de Mafalda, que pensava ter o mundo na mão, e não tinha. Quino era cínico e lúcido.
«DN» 25 Mai 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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