23.5.14

Pérolas de história que desperdiçamos

Por Ferreira Fernandes 
A revista brasileira Veja dedica a capa a Cristiano Ronaldo. Chama-lhe "o melhor jogador do mundo" e lembra a "arrogância" dele. Para pedras, é um magnífico pedestal. A Veja cita um historiador dizendo do jogador: "Ele é o homem que os portugueses raramente conseguem ser: ótimo profissional e dono do próprio nariz." E o historiador insiste: "Contrasta com o traço comum de submissão deste país." Vocês não queriam só elogios, pois não? Afinal, a revista é brasileira e o português (aquele futebolista) vai lá chegar como adversário. Em todo o caso, voltemos à generalização do português que não consegue ser (com a rara exceção do CR7) bom de bola e soberbo. É uma generalização, que como a rosa que é rosa é uma generalização. Nem vou alargar o campo de pesquisa para procurar portugueses ótimos. Fico mesmo só no futebol. E, aí, fecho ainda mais o ângulo de pesquisa: portugueses no futebol, e no futebol brasileiro. Então, aí vai. Em 1923, o Vasco da Gama, o clube dos comerciantes lusos, ganhou o campeonato do Rio. Os clubes da elite não gostaram porque havia negros na equipa. Convidaram o Vasco a mandar embora os crioulos. Mas a direção do Vasco disse: "Então, não jogamos!" E não jogaram. Quem sabe se esse traço português de não submissão não apressou os ótimos e soberbos Pelé, Didi e Djalma Santos, em 1958? Estes não são portugueses, eu sei. O meu ponto é outro: sem o Vasco de 1923, esses campeões mundiais não se teriam atrasado?
«DN» de 23 Mai 14

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