Que fazer com Portugal?
Por Baptista-Bastos
A
experiência e os indicadores demonstram que o conceito de democracia,
tal como o sonhámos ou concebemos, foi substituído por outro paradigma. O
"cansaço democrático" tem muito que ver com uma ideia de passadismo,
com a perda do "objecto estimado" trocado pela pressa da ganância e pela
ascensão precipitada e com escassos princípios de uma geração "da
insignificância." A crise europeia dos partidos teria, inevitavelmente,
de se reflectir, pelos motivos apontados, em Portugal e nas organizações
políticas tradicionais.
O PS está cindido porque a própria
natureza das suas estruturas, a ausência de uma ideologia "de esquerda",
e o abandono das velhas bandeiras por dirigentes pouco ou nada
interessados em combater o "sistema", conduziram a um estado
cataléptico. O pobre António José Seguro tem dado uma ajuda a esta
insalubridade, mas ele não é causa, é resultado, e manifesta módica
fibra em alterar o que está. António Costa provém de outra leva, e a
apreensão que provoca, na direita e adjacências, surge como uma espécie
de pecado capital. O susto que tem causado é semelhante àquele que o
PREC ateou nos esquemas tradicionais de poder. O que não é despiciendo,
tendo em conta o amorfismo em que vivemos. Mas, tenham calma, as águas
voltarão a estar quedas. Os sinais são esses.
O PSD,
historicamente um aterrador saco de lacraus, está mais dividido do que
aparenta. E a Dr.ª Manuela Ferreira Leite faz-nos, pontualmente, o
diagnóstico da situação, e esclarece-nos, sem rebuço nem dubiedade,
estarmos a ser governados por um bando de mentirosos e de ineptos sem
perdão. Haja Deus e haja Freud!
O Bloco de Esquerda, agrupamento
simpático mas fervorosamente desorientado, vai-se desfazendo aos
poucochinhos. A "linha" Miguel Portas, que ninguém em seu perfeito juízo
sabe rigorosamente o que seja, ganhou outra aliada, com a dissidência
de Ana Drago do interessante agrupamento. Sequer se vislumbra ou se
adivinha o que virá a seguir, mas a prever pelas declarações de Drago,
veemente e severa, ou o Bloco se coliga com o PS, ou não será. Induz-se
que a direcção bicéfala pretende aliar-se, isso sim, ao PCP, e as
reuniões havidas entre dirigentes de ambos os partidos caucionam as
apreensões dos representantes da "linha" Portas.
Está tudo a
desconchavar-se, e as referências que tinham alimentado os sonhos, os
combates e as esperanças de gerações e gerações foram varridas pela
ausência de responsabilização dos "tempos novos". Estes, propagandeados
como bonançosos, depois dos "ajustamentos", oferecem o vazio e a
indiferença como sinónimos de tranquilidade. E não assinalam a razão
fundamental do arquétipo: a perda das lógicas democráticas. É a uma nova
tragédia o que estamos a assistir.
«DN» de 16 Jul 14 Etiquetas: BB
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home