23.9.14

Debate de manda-chuvas

Por Ferreira Fernandes
Às 14.37, a Rua de Santa Marta, Lisboa, transforma-se em correnteza, quase cascata. Um táxi trava porque saltou uma tampa de saneamento. A água explode em géiser, junta-se à que golfa das grelhas das sarjetas e forma-se o rio de Santa Marta. Os passageiros, dois turistas, já estão arrependidos de não terem vindo equipados para rafting e outros desportos radicais quando escolheram Lisboa. Já se viam levados pelo caudal quando voa pelas escadas da Avenida Duque de Loulé um vulto escuro, com uma capa. É um morcego? É um helicóptero? Não. É o mayor! Com uma mão põe a tampa no lugar, com os lábios sopra de volta a água para as sarjetas e com o olhar plácido acalma os turistas. Estes não sabem quanto aquela coragem era desinteressada, o que movera o herói não era o voto deles, pois eles nem inscritos estavam nas primárias. Domada e devolvida a rua, Santa Marta viu partir o vulto de capa: "Obrigado, presidente!", disse o taxista, enquanto o vulto voava para a Calçada de Carriche... 
Entretanto, no Largo do Rato, das largas portadas de um palácio cor-de-rosa, outro vulto. As mãos em cruz de Santo André e o olhar mártir de São Sebastião, o vulto rezava: "São Pedro, cala a Nossa Senhora da Conceição que nos dá sol e chuva não, cala Santa Bárbara, para que troveje! Por favor, São Pedro, entope Lisboa..." Foi ouvido, mas só por fonte terrena: pelo menos até domingo, dia das primárias, haverá chuva, segundo os Serviços Meteorológicos. 
«DN» de 23 Set 14

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1 Comments:

Blogger brites said...


feche-se o céu para obras.

23 de setembro de 2014 às 21:38  

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