23.10.14

Matar conseguem mas a suicidar falham sempre

Por Ferreira Fernandes
Vi ontem que um jornal fez com o homem que matou a mulher um daqueles "sobe e desce" com setinhas. O homem, engenheiro e de Soure (digo isto porque, sendo tantos os homens que matam as mulheres, se não damos minúcias, perdemo-nos), além da mulher, matou uma filha de 16 anos e feriu outra, de 13. As setas são úteis para se entender rapidinho se é mau ou bom o que um sujeito fez. Por exemplo, o ministro poupou: seta para cima. O guarda-redes deu um frango: seta para baixo. As opiniões são controversas, difíceis de pesar. São como os interruptores, umas vezes para cima, outras para baixo. Um homem que mata a mulher e uma filha, e fere outra, e tudo com várias facas, três ou quatro, porque iam-se partindo, esse sujeito, pois, foi colocado pelo jornal sob a dúvida: sobe ou desce? Desce, o jornal pô-lo a descer. Acho que foi uma decisão acertada. Outra coisa eu não esperaria de um jornal que narra estas coisas do quotidiano ordinário com cuidadas análises psicanalíticas: o homem tinha "pouca autoestima". No fim do artigo fui informado de que ele "depois de matar a família teve intenção de se suicidar mas não conseguiu." É sempre assim... Eu, que sou um bruto e dou pouca atenção às tais análises, já aqui propus numa que se fizesse uma campanha nacional para se inverter o método: explicar aos homens do meu país que devem, primeiro, suicidar-se, e só depois tentar matar as mulheres. Ah, se eu soubesse explicar isso com setinhas... 
«DN» de 23 Out 14

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