O marido (malcriado) da ministra
Por Antunes Ferreira
Tricas entre jornalistas,
como entre outros membros de classes profissionais, são muito frequentes.
Normalmente acabam em bem, mas há guerras entre o alecrim e a manjerona que dão
que falar e prolongam-se ao longo do tempo. São inevitáveis, se há problemas
entre eles, nós, em tempos dirimiam-se à pistola ou à espada, os famosos
duelos. Hoje, porém, já ninguém sai à estacada para duelar. Uma boa polémica
substituiu a utilização das armas.
No entanto, são raras as
vezes em que um jornalista move uma acção contra outro – o que é válido também
para uma ou outra – caindo no foro judicial, indo a tribunal, responder ao
processo que foi levantado com o contraditório. De resto, com a (in)Justiça que
hoje temos por cá, mesmo tendo em conta o famigerado Citius, as acções andam
(?) a passos de tartaruga, se não mesmo de caranguejo, deixando passar o tempo
para se alcançar a tão ansiada prescrição, o procedimento judicial é mais uma
farsa.
Foi tempo em que figura da
Justiça era uma dama vendada empunhando na mão direita uma espada e na esquerda
uma balança. Neste país da treta, a pobre senhora perdeu a espada e na balança
tão pesado é um do pratos que o outro
não consegue o desejado equilíbrio. No primeira cresce o dinheiro e a
corrupção, o poder (?) mancomunado com a banca, o tráfico influências de braço
dado com as drogas, a traficância mais criminosa, a venda (e compra) de
armamento e a prostituição. E fico-me por aqui sob pena de enunciar uma velha
lista telefónica que já deu o que tinha a dar.
Além disso a venda – se é
que ainda existe – é uma falácia. Mesmo dando de barato que ela ainda tapa os
olhos da Justiça, é transparente. Não quero dizer com este quadro que todos os
intervenientes nos autos são os proprietários do descalabro que antes enunciei , no prato mais pesado de
uma balança não aferida. Generalizar seria impossível, porque continua a haver
juízes, advogados, meirinhos, oficiais de diligências e administrativos que vêm
tentando ter as coisas em dia e lutando contra o Citius, plataforma malvada.
Penso que na maioria dos casos o profissionalismo, a isenção, a verticalidade,
a equidade vão sobrevivendo.
Vem tudo isto a propósito
de uma peixeirada entre dois jornalistas, um dos quais marido de uma ministra. O
caso é do conhecimento público, mas aqui o alinhavo. António Albuquerque,
marido da ministra das Finanças e ex-jornalista do Diário Económico ,
foi alvo de um queixa no Ministério Público por ameaças e pressões a um
jornalista do mesmo órgão da comunicação social. Em causa está uma troca de mensagens em que António Albuquerque
insulta e ameaça Filipe Alves por causa de um artigo de opinião publicado no
jornal.
Na base da troca de sms
estava um artigo, publicado na edição de 22 de Setembro do Diário Económico,
com o título "O que acontece se o Novo
Banco for vendido com prejuízo?", em que Filipe Alves questiona as eventuais
consequências para os contribuintes da venda do Novo Banco. Este passou a receber várias mensagens, que
Albuquerque, o autor delas, confirmou ter sido o seu autor. Este saiu
despropositadamente em defesa da sua dama Maria Luís Albuquerque, a ministra
das Finanças.
Entre os “mimos” enviados
por António Albuquerque destaco: “Tira a minha mulher da equação ou vou-te aos
cornos” ou “Não sabes quem é que eu sou. Metes a minha mulher ao barulho e
podes ter a certeza que vais parar ao hospital”. Alves ainda deu um prazo para
Albuquerque lhe pedir desculpas da má e educação que usara; António Albuquerque enviou uma carta ao
jornalista a ameaçar com um processo por este ter descoberto a sua morada.
Perante as perguntas que órgãos de informação lhe fizeram Albuquerque
confirmou ser o autor das mensagens e recusou pedir desculpas: “Antes ser
condenado”.
Por isso Alves avançou com
uma queixa junto do Ministério Público. E espera ver o que daí resulta na barra
do tribunal, sede própria para a resolução desta estúpida questão. Mas, eu não
espero pelo que quer que seja. Tenho a minha opinião – é melhor ter uma (que até
pode estar errada) do que não ter nenhuma. Duvido que do caso saia um coelho
(sem caixa alta); penso que poderá ser o mons
parturiens. Mas também penso que o facto de ser marido da ministra das
Finanças não o devia ilibar das ameaças e impropérios que se deu ao luxo de
utilizar.
Porém estamos num país que
se chama (ainda) Portugal em que os habitantes dele somos nós, os Portugueses, a
quem falta energia e sobretudo coragem para afrontar o (des)Governo que nos
agride todos os dias. Habituámo-nos a estar agachados perante o poder (?),
perdemos a vergonha, copiando os desenvergonhados que saltam entre Belém e S.
Bento, passando pelo Terreiro do Paço, pela 5 de Outubro e outros locais também
mal-afamados.
Temos aquilo que quisemos
quando depositámos os votos nas urnas (permitam-me a salvaguarda, eu não o
fiz): Fomos enganados? Fomos. Mas o marido enganado é sempre o último a saber…
Com abortos destes nem
escrevi sobre os casos da famigerada legionela ou dos vistos gold. Ficam porém
guardados.
Etiquetas: AF
1 Comments:
Certamente que se está a ver ao espelho.Parece que abortou mesmo. O mal é os jornalistas atearem fogos a coberto de impunidade.
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