15.11.14

O marido (malcriado) da ministra



Por Antunes Ferreira

Tricas entre jornalistas, como entre outros membros de classes profissionais, são muito frequentes. Normalmente acabam em bem, mas há guerras entre o alecrim e a manjerona que dão que falar e prolongam-se ao longo do tempo. São inevitáveis, se há problemas entre eles, nós, em tempos dirimiam-se à pistola ou à espada, os famosos duelos. Hoje, porém, já ninguém sai à estacada para duelar. Uma boa polémica substituiu a utilização das armas.

No entanto, são raras as vezes em que um jornalista move uma acção contra outro – o que é válido também para uma ou outra – caindo no foro judicial, indo a tribunal, responder ao processo que foi levantado com o contraditório. De resto, com a (in)Justiça que hoje temos por cá, mesmo tendo em conta o famigerado Citius, as acções andam (?) a passos de tartaruga, se não mesmo de caranguejo, deixando passar o tempo para se alcançar a tão ansiada prescrição, o procedimento judicial é mais uma farsa.

Foi tempo em que figura da Justiça era uma dama vendada empunhando na mão direita uma espada e na esquerda uma balança. Neste país da treta, a pobre senhora perdeu a espada e na balança tão pesado é um do pratos  que o outro não consegue o desejado equilíbrio. No primeira cresce o dinheiro e a corrupção, o poder (?) mancomunado com a banca, o tráfico influências de braço dado com as drogas, a traficância mais criminosa, a venda (e compra) de armamento e a prostituição. E fico-me por aqui sob pena de enunciar uma velha lista telefónica que já deu o que tinha a dar.

Além disso a venda – se é que ainda existe – é uma falácia. Mesmo dando de barato que ela ainda tapa os olhos da Justiça, é transparente. Não quero dizer com este quadro que todos os intervenientes nos autos são os proprietários do descalabro  que antes enunciei , no prato mais pesado de uma balança não aferida. Generalizar seria impossível, porque continua a haver juízes, advogados, meirinhos, oficiais de diligências e administrativos que vêm tentando ter as coisas em dia e lutando contra o Citius, plataforma malvada. Penso que na maioria dos casos o profissionalismo, a isenção, a verticalidade, a equidade  vão sobrevivendo.

Vem tudo isto a propósito de uma peixeirada entre dois jornalistas, um dos quais marido de uma ministra. O caso é do conhecimento público, mas aqui o alinhavo. António Albuquerque, marido da ministra das Finanças e ex-jornalista do Diário Económico , foi alvo de um queixa no Ministério Público por ameaças e pressões a um jornalista do mesmo órgão da comunicação social.  Em causa está uma troca de mensagens em que António Albuquerque insulta e ameaça Filipe Alves por causa de um artigo de opinião publicado no jornal.

Na base da troca de sms estava um artigo, publicado na edição de 22 de Setembro do Diário Económico, com o título "O que acontece se o Novo Banco for vendido com prejuízo?", em que Filipe Alves questiona as eventuais consequências para os contribuintes da venda do Novo Banco.  Este passou a receber várias mensagens, que Albuquerque, o autor delas, confirmou ter sido o seu autor. Este saiu despropositadamente em defesa da sua dama Maria Luís Albuquerque, a ministra das Finanças.

Entre os “mimos” enviados por António Albuquerque destaco: “Tira a minha mulher da equação ou vou-te aos cornos” ou “Não sabes quem é que eu sou. Metes a minha mulher ao barulho e podes ter a certeza que vais parar ao hospital”. Alves ainda deu um prazo para Albuquerque lhe pedir desculpas da má e educação que usara;  António Albuquerque enviou uma carta ao jornalista a ameaçar com um processo por este ter descoberto a sua morada. Perante as perguntas que órgãos de informação lhe fizeram  Albuquerque confirmou ser o autor das mensagens e recusou pedir desculpas: “Antes ser condenado”.

Por isso Alves avançou com uma queixa junto do Ministério Público. E espera ver o que daí resulta na barra do tribunal, sede própria para a resolução desta estúpida questão. Mas, eu não espero pelo que quer que seja. Tenho a minha opinião – é melhor ter uma (que até pode estar errada) do que não ter nenhuma. Duvido que do caso saia um coelho (sem caixa alta); penso que poderá ser o mons parturiens. Mas também penso que o facto de ser marido da ministra das Finanças não o devia ilibar das ameaças e impropérios que se deu ao luxo de utilizar.

Porém estamos num país que se chama (ainda) Portugal em que os habitantes dele somos nós, os Portugueses, a quem falta energia e sobretudo coragem para afrontar o (des)Governo que nos agride todos os dias. Habituámo-nos a estar agachados perante o poder (?), perdemos a vergonha, copiando os desenvergonhados que saltam entre Belém e S. Bento, passando pelo Terreiro do Paço, pela 5 de Outubro e outros locais também mal-afamados.

Temos aquilo que quisemos quando depositámos os votos nas urnas (permitam-me a salvaguarda, eu não o fiz): Fomos enganados? Fomos. Mas o marido enganado é sempre o último a saber…

Com abortos destes nem escrevi sobre os casos da famigerada legionela ou dos vistos gold. Ficam porém guardados.

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1 Comments:

Blogger opjj said...

Certamente que se está a ver ao espelho.Parece que abortou mesmo. O mal é os jornalistas atearem fogos a coberto de impunidade.

15 de novembro de 2014 às 11:12  

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