O Défice Moral de José Sócrates
Por Maria Filomena Mónica
NASCI NUM PAÍS pobre,
pequeno e situado na periferia europeia. Quanto aos últimos factores, nada há a
fazer. Já quanto ao primeiro, a situação é diferente, uma vez que pelo menos
num aspecto - a desigualdade social - os políticos têm armas para a combater.
Não lhes peço que consigam que o PIB nacional seja igual ao da Dinamarca: o que
lhes exijo, especialmente aos que se reclamam da esquerda, é que contribuam
para diminuir o fosso que, em Portugal, subsiste entre ricos e pobres. Claro
que nunca esperei que o problema tirasse o sono a Sócrates: mal o vi na
televisão, percebi ser ele o tipo de governante para quem a prioridade era
jantar na Brasserie Lippe em Paris.
Sócrates não era rico nem
competente. Antes de enveredar pela política, a sua única experiência
profissional foi a de técnico da Câmara Municipal da Covilhã, onde, na década
de 1980, o pai lhe arranjou um emprego. Quem desejar saber mais sobre a mítica
fortuna deixada pelo «avô do volfrâmio», leia a reportagem de José Antonio
Cerejo em Público (4.12. 2014). Entre
as serras, o ressentimento social do jovem foi em crescendo. Com
esperteza, pensou, talvez alcançasse o que cobiçava. Numa entrevista, concedida
a um jornal da Covilhã, foi claro sobre o que pensava das elites: «Há uma
grande segregação que tem a ver com a origem e com a província. Não há a mesma
igualdade de oportunidades. Isto quer dizer que as pessoas do interior, para se
afirmarem na corte lisboeta, têm de ser muito mais talentosas do que as pessoas
de Lisboa». Infelizmente, não tinha a inteligência de Rastignac.
Sempre pensou que escaparia à
justiça, mas a sua vida tem demasiadas zonas cinzentas para que tal pudesse
acontecer. Após uma licenciatura estranha, terá assinado, na Guarda, projectos
arquitectónicos que não eram da sua autoria; sem que alguém percebesse a
necessidade, consta que alterou os limites de uma zona natural protegida; a
forma como fez a adjudicação da central de tratamentos de lixo da Cova da Beira
levantou dúvidas; em 2005, criou o Regime Extraordinário de Regularização
Tributaria (RETC), uma espécie de amnistia fiscal que o libertou de eventuais
responsabilidades criminais. O seu nome foi sendo referido em processos, de que
se destacam os casos Freeport, a Face Oculta e o Monte Branco. Em 2011, depois de ter deixado o poder, instalou-se,
em Paris, num apartamento de luxo, hoje à venda por 4 milhões de euros.
A 21 de Novembro, era detido no
aeroporto de Lisboa, após o que foi indiciado por sete crimes graves, tendo o
juiz do Tribunal de Instrução Criminal ordenado a sua prisão preventiva.
Recorrendo a um recente acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, o Correio da Manhã (4.12.2014) revela que,
antes das buscas, os seus computadores pessoais foram «limpos». Vai passar
muito tempo antes que os portugueses possam ter conhecimento da sentença final.
Uma coisa é certa: um Primeiro-Ministro que deixa o país na miséria não se pode
instalar, sob o pretexto de estudar Filosofia, num dos bairros mais caros de
Paris. José Sócrates sofre de um défice moral.
«Expresso» de
6 Dez 14
Etiquetas: FM
4 Comments:
Eis um texto que eu assinaria por baixo, como se diz. Com um atrevimento: onde está escrito "Sócrates não era rico nem competente", eu acrescentaria: "nem sério".
E o facto de haver muitos, com muitas responsabilidades, que também o não são não o iliba nem um bocadinho. Têm, aliás, estado bem uns para os outros.
Por culpa do défice de cidadania da generalidade dos portugueses (eu, por exemplo, também votei nele).
Eis um texto que só poderia ser escrito por quem foi.
A senhora tem sempre a língua afiada contra um certo tipo de pessoas e de situações, bem refastelada no cadeirão, quando alguém lhe póe o microfone a jeito, ou a folha...
Defende a diminuição das desigualdades, mas nunca está com os cortes quando a prejudicam. Com os ricos dá-se bem. Inclusivé com aqueles que põem o dinheirinho na Holanda...
Bate no Sócrates de forma classista. Fica eufórica com a sua detenção, porque o seu ego precisa, a populaça não pensa em mais nada, e a revolução fica por fazer...e os verdadeiros donos disto tudo ficam pregados aos seus vícios.Os ricos ficam mais ricos e multiplicam-se!
Pena é que o povo não se aperceba dos falsos amigos. São ricos, elitistas, vingativos.
Quantas vezes não fazem só pela garantia das suas mordomias, empunhando bandeiras simpáticas ao povinho... desarmado!
Eis um texto que só poderia ser escrito por quem foi.
A senhora tem sempre a língua afiada contra um certo tipo de pessoas e de situações, bem refastelada no cadeirão, quando alguém lhe póe o microfone a jeito, ou a folha...
Defende a diminuição das desigualdades, mas nunca está com os cortes quando a prejudicam. Com os ricos dá-se bem. Inclusivé com aqueles que põem o dinheirinho na Holanda...
Bate no Sócrates de forma classista. Fica eufórica com a sua detenção, porque o seu ego precisa, a populaça não pensa em mais nada, e a revolução fica por fazer...e os verdadeiros donos disto tudo ficam pregados aos seus vícios.Os ricos ficam mais ricos e multiplicam-se!
Pena é que o povo não se aperceba dos falsos amigos. São ricos, elitistas, vingativos.
Quantas vezes não fazem só pela garantia das suas mordomias, empunhando bandeiras simpáticas ao povinho... desarmado!
Há gente assina de cruz tudo o que lhe aparece.
Eu não me deixo seduzir por histórias que pingam daqui e dali.
Até que os tribunais provem crimes, eu estarei com Sócrates como sempre estive.
Quem se apressa a julgá~lo deve ter defeito a esconder.
Quantas vezes os ladrões não são os primeiros a condenar?
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