ÁGUA DE COCO - Religiões de braço dado
Por Antunes Ferreira
Em tempo de Semana Santa volto ao tema Religião, não para enfatizar o
catolicismo que por Goa existe – e do qual dei conta noutro artigo deste blogue
– mas para apresentar um fenómeno inter-religiões que aqui subsiste. E de que
maneira… Para um observador como é o meu caso que uso dizer e escrever que já
fui católico, mas curei-me, é interessantíssimo constatar que as práticas
religiosas valem o que valem, mas coexistindo têm mais valor acrescentado, para
usar linguagem “politicamente correcta” que ninguém sabe exactamente o que é,
mas é de bom tom utilizar…
Em 1980 quando cheguei à “Pérola do Oriente” decorreu a festa de São
Francisco Xavier. Uma multidão avassaladora enchia a Velha Cidade onde se
encontram diversos templos católicos, num dos quais, a basílica do Bom Jesus,
onde num túmulo de prata cravejado de pedras preciosas e de vidro repousa o
santo cujo corpo está incorrupto. Tendo morrido na ilha de Sanchoão (China) aí
foi sepultado. O corpo foi depois transportado até Malaca, donde saiu para ser
colocado no já citado túmulo de prata e vidro. Dizem as más-línguas que a
pedraria terá sido roubada e actualmente é falsa. Mas…
O facto indesmentível que vi foi a imensa fila de pessoas aguardando a
vez de beijarem a urna com uma paciência verdadeiramente oriental. Católicos,
outros cristãos, hindus a constituíam. Vi com os mus olhos (e também com os
meus óculos, que as dioptrias não se compadecem com a diminuição da visão. Um
verdadeiro exemplo da convivência religiosa, pois até sikhs faziam parte dos que
se propunham beijar a urna. Uma demonstração de que os crentes não têm raças
nem bandeiras, países ou continentes. Sem grande dificuldade recordei Fátima –
mas sem corpo incorrupto, agora múmia ressequida e acastanhada.
Pois bem, passo adiante pois outra prática tem lugar na Semana Santa em
Pangim e pela Goa católica. Trata-se das procissões, nomeadamente as da época.
A propósito tenho de dizer que o meu Amigo Mário Miranda, o famoso cartunista
falecido há dois anos, tem nesta matéria desenhos, muitos, que dão bem a ideia
das procissões, naturalmente hábitos que ficaram do tempo dos portugueses. Com
características irónicas como era seu timbre deixou para a posteridade registos
incontornáveis.
Mas vamos entrar pelo tema das procissões pascais na capital. São duas
as principais: a do Senhor Morto e a do Senhor com a Cruz às costas. Delas
falarei um pouco mais à frente com os pormenores possíveis: Isto porque tenho
de referir já a Procissão das Capas Magnas que decorre na Sé existente na Velha
Cidade. É orgulho aliás justificado que o padre Mascarenhas me refere que esta
procissão só se realiza em dois sítios no Mundo: no Vaticano e em Goa. Aceito como boa a
informação do sacerdote – e de resto não tenho razões para nela não acreditar.
Como já referi por diversas vezes é na Velha cidade que existe a maior
panóplia de templos católicos, o Arco dos Vice-Reis reconstruído e mais
exemplos da importância da que foi a primeira capital de Goa nos tempos
portugueses. Só que descobriram que não tinha bom abastecimento de água o que
originou a mudança para Pangim. É um repositório histórico-religioso que não
pode, nem deve ser ignorado nas visitas turísticas e outras.
Volto, agora à capital que viu o seu nome mudado para Panaji, ao qual
apenas os serviços oficiais respeitam… As duas procissões têm em comum uma
originalidade: durante o percurso delas, para além dos altos em capelas e
quejandos, também param em dois locais que nada têm a ver com o catolicismo. Um
é em frente da casa de um dos homens mais ricos, Caculó; o outro +e perante o
templo dos ismaelitas que aqui são chamados kojás. Em ambos manda a tradição
que sejam feitas ofertas.
Se fosse preciso – e não é – esta interreliogisidade é marca da forma
como eem Goa se respeitam católicos e hindus. Pode acontecer – e acontecem –
conflitos entre os membros das duas maneiras de estar no Mundo em quase todo o
subcontinente que é a Índia. Os órgãos de informação locais e globais dão
conhecimento frequentemente deles.
Mas em Goa não é assim. Acontecem crimes
sexuais, violações algumas colectivas. As há que ver que turistas sobretudo
europeias e nórdicas para além do cabelos loiros expõem-se a esses actos
criminosos porque sabem bem que não lhes permitido o biquíni reduzido, a tanguinha e o fio-dental. E muito
menos e obviamente o monoquíni. E lembro-me da Marylin Monroe: o pecado mora ao
lado…
Etiquetas: AF
1 Comments:
As religiões deviam ir todas de braço dado para o inferno.
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