4.4.15

ÁGUA DE COCO - Religiões de braço dado

Por Antunes Ferreira
Em tempo de Semana Santa volto ao tema Religião, não para enfatizar o catolicismo que por Goa existe – e do qual dei conta noutro artigo deste blogue – mas para apresentar um fenómeno inter-religiões que aqui subsiste. E de que maneira… Para um observador como é o meu caso que uso dizer e escrever que já fui católico, mas curei-me, é interessantíssimo constatar que as práticas religiosas valem o que valem, mas coexistindo têm mais valor acrescentado, para usar linguagem “politicamente correcta” que ninguém sabe exactamente o que é, mas é de bom tom utilizar… 
Em 1980 quando cheguei à “Pérola do Oriente” decorreu a festa de São Francisco Xavier. Uma multidão avassaladora enchia a Velha Cidade onde se encontram diversos templos católicos, num dos quais, a basílica do Bom Jesus, onde num túmulo de prata cravejado de pedras preciosas e de vidro repousa o santo cujo corpo está incorrupto. Tendo morrido na ilha de Sanchoão (China) aí foi sepultado. O corpo foi depois transportado até Malaca, donde saiu para ser colocado no já citado túmulo de prata e vidro. Dizem as más-línguas que a pedraria terá sido roubada e actualmente é falsa. Mas…
O facto indesmentível que vi foi a imensa fila de pessoas aguardando a vez de beijarem a urna com uma paciência verdadeiramente oriental. Católicos, outros cristãos, hindus a constituíam. Vi com os mus olhos (e também com os meus óculos, que as dioptrias não se compadecem com a diminuição da visão. Um verdadeiro exemplo da convivência religiosa, pois até sikhs faziam parte dos que se propunham beijar a urna. Uma demonstração de que os crentes não têm raças nem bandeiras, países ou continentes. Sem grande dificuldade recordei Fátima – mas sem corpo incorrupto, agora múmia ressequida e acastanhada.
Pois bem, passo adiante pois outra prática tem lugar na Semana Santa em Pangim e pela Goa católica. Trata-se das procissões, nomeadamente as da época. A propósito tenho de dizer que o meu Amigo Mário Miranda, o famoso cartunista falecido há dois anos, tem nesta matéria desenhos, muitos, que dão bem a ideia das procissões, naturalmente hábitos que ficaram do tempo dos portugueses. Com características irónicas como era seu timbre deixou para a posteridade registos incontornáveis.
Mas vamos entrar pelo tema das procissões pascais na capital. São duas as principais: a do Senhor Morto e a do Senhor com a Cruz às costas. Delas falarei um pouco mais à frente com os pormenores possíveis: Isto porque tenho de referir já a Procissão das Capas Magnas que decorre na Sé existente na Velha Cidade. É orgulho aliás justificado que o padre Mascarenhas me refere que esta procissão só se realiza em dois sítios no Mundo: no Vaticano e em Goa. Aceito como boa a informação do sacerdote – e de resto não tenho razões para nela não acreditar.
Como já referi por diversas vezes é na Velha cidade que existe a maior panóplia de templos católicos, o Arco dos Vice-Reis reconstruído e mais exemplos da importância da que foi a primeira capital de Goa nos tempos portugueses. Só que descobriram que não tinha bom abastecimento de água o que originou a mudança para Pangim. É um repositório histórico-religioso que não pode, nem deve ser ignorado nas visitas turísticas e outras.
Volto, agora à capital que viu o seu nome mudado para Panaji, ao qual apenas os serviços oficiais respeitam… As duas procissões têm em comum uma originalidade: durante o percurso delas, para além dos altos em capelas e quejandos, também param em dois locais que nada têm a ver com o catolicismo. Um é em frente da casa de um dos homens mais ricos, Caculó; o outro +e perante o templo dos ismaelitas que aqui são chamados kojás. Em ambos manda a tradição que sejam feitas ofertas.
Se fosse preciso – e não é – esta interreliogisidade é marca da forma como eem Goa se respeitam católicos e hindus. Pode acontecer – e acontecem – conflitos entre os membros das duas maneiras de estar no Mundo em quase todo o subcontinente que é a Índia. Os órgãos de informação locais e globais dão conhecimento frequentemente deles.
Mas em Goa não é assim. Acontecem crimes sexuais, violações algumas colectivas. As há que ver que turistas sobretudo europeias e nórdicas para além do cabelos loiros expõem-se a esses actos criminosos porque sabem bem que não lhes permitido o biquíni  reduzido, a tanguinha e o fio-dental. E muito menos e obviamente o monoquíni. E lembro-me da Marylin Monroe: o pecado mora ao lado…

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1 Comments:

Blogger Leo said...

As religiões deviam ir todas de braço dado para o inferno.

6 de abril de 2015 às 01:33  

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