16.4.15

Todos somos ateus

Por C. Barroco Esperança
Não há a mais leve suspeita ou o menor indício de que Deus exista, nem qualquer sinal de vida da parte dele. No entanto, o ónus da prova cabe a quem afirma a sua existência e, sobretudo, a quem vive disso.
Cada religião considera falsas todas as outras e o deus de cada uma delas, afirmação em que certamente todas têm razão. Os ateus só consideram falsa uma religião mais e mais um deus, o que, no fundo, faz de todos ateus. E não é no sentido grego, em que ateu era o que acreditava nos deuses de uma cidade diferente, é no sentido comum da negação de Deus [com maiúscula para o deus abraâmico] ou de qualquer outro.
Todos somos hoje ateus em relação a Zeus, Osíris ou ao Boi Ápis, como amanhã outros serão em relação a Vishnu, Shiva e Brahma ou ao Pai, Filho e Espírito Santo da trindade cristã. Os deuses de hoje serão os mitos do futuro. Outros serão criados, por necessidade psicológica, para servirem de explicação, por defeito, a todas as dúvidas, e de lenitivo a todos os medos.
A morte, a angústia que desperta, o fim biológico de todos os seres vivos, é o maior dos medos. Deus é o mito bebido no berço, a esperança de outra vida para além da morte, a boia dos náufragos que se habituaram a acreditar desde crianças e se conformaram com a pueril explicação da catequese e se intimidaram com a dúvida. Os constrangimentos sociais ou/e a repressão violenta ao livre-pensamento tem perpetuado mitos milenares.
A crença, em si, não é um perigo nem ameaça, perigoso é o proselitismo, essa demência de quem não se contenta em ter um deus para si e exige que os outros também o adotem e o adorem. A vontade evangelizadora transforma as religiões em detonadoras do ódio e a competição entre elas em rastilho da violência.
A fé, vivida por cada um, é inócua; transformada em veículo coletivo de conquista ou aglutinação de povos, torna-se um instrumento de violência. É por isso que os Estados devem ser neutros, em matéria religiosa, para poderem garantir a liberdade de todos.
Ponte Europa / Sorumbático

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4 Comments:

Blogger Leo said...

Acho até que se devia ir mais longe. Os Estados deviam abolir as religiões organizadas, como instituições geradoras de dogmas que normalmente apanham na rede os mais incautos e os menos esclarecidos.

17 de abril de 2015 às 00:59  
Blogger Carlos Esperança said...

Leo:

Basta levar à prática a laicidade da França. O Estado não tem de reconhecer nenhuma religião e, por isso, respeita-as sem se deixar capturar.

17 de abril de 2015 às 01:13  
Blogger Leo said...

Na prática qual é a diferença?
Quanto a mim deviam era proibir as instituições religiosas por burlar a Humanidade durante séculos.
E o papa e restantes lideres religiosos deviam ir todos parar ao tribunal internacional e pagar pelos crimes cometidos pelas respetivas religiões ao longo do tempo.
Isso sim seria dar a vida pela remissão dos pecados e que não foram praticados pelos Homens profanos, mas pelos da igreja.
Falta coragem neste mundo e a cobardia é assassina.

17 de abril de 2015 às 14:33  
Blogger brites said...


Se Leo mandasse a selva podia ser mais perigosa...

24 de abril de 2015 às 16:15  

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