Todos somos ateus
Por C. Barroco Esperança
Não há a mais leve suspeita ou o menor indício de que Deus exista, nem
qualquer sinal de vida da parte dele. No entanto, o ónus da prova cabe a
quem afirma a sua existência e, sobretudo, a quem vive disso.
Cada religião considera falsas todas as outras e o deus de cada uma delas, afirmação em que certamente todas têm razão. Os ateus só consideram falsa uma religião mais e mais um deus, o que, no fundo, faz de todos ateus. E não é no sentido grego, em que ateu era o que acreditava nos deuses de uma cidade diferente, é no sentido comum da negação de Deus [com maiúscula para o deus abraâmico] ou de qualquer outro.
Todos somos hoje ateus em relação a Zeus, Osíris ou ao Boi Ápis, como amanhã outros serão em relação a Vishnu, Shiva e Brahma ou ao Pai, Filho e Espírito Santo da trindade cristã. Os deuses de hoje serão os mitos do futuro. Outros serão criados, por necessidade psicológica, para servirem de explicação, por defeito, a todas as dúvidas, e de lenitivo a todos os medos.
A morte, a angústia que desperta, o fim biológico de todos os seres vivos, é o maior dos medos. Deus é o mito bebido no berço, a esperança de outra vida para além da morte, a boia dos náufragos que se habituaram a acreditar desde crianças e se conformaram com a pueril explicação da catequese e se intimidaram com a dúvida. Os constrangimentos sociais ou/e a repressão violenta ao livre-pensamento tem perpetuado mitos milenares.
A crença, em si, não é um perigo nem ameaça, perigoso é o proselitismo, essa demência de quem não se contenta em ter um deus para si e exige que os outros também o adotem e o adorem. A vontade evangelizadora transforma as religiões em detonadoras do ódio e a competição entre elas em rastilho da violência.
A fé, vivida por cada um, é inócua; transformada em veículo coletivo de conquista ou aglutinação de povos, torna-se um instrumento de violência. É por isso que os Estados devem ser neutros, em matéria religiosa, para poderem garantir a liberdade de todos.
Ponte Europa / Sorumbático
Etiquetas: CBE
4 Comments:
Acho até que se devia ir mais longe. Os Estados deviam abolir as religiões organizadas, como instituições geradoras de dogmas que normalmente apanham na rede os mais incautos e os menos esclarecidos.
Leo:
Basta levar à prática a laicidade da França. O Estado não tem de reconhecer nenhuma religião e, por isso, respeita-as sem se deixar capturar.
Na prática qual é a diferença?
Quanto a mim deviam era proibir as instituições religiosas por burlar a Humanidade durante séculos.
E o papa e restantes lideres religiosos deviam ir todos parar ao tribunal internacional e pagar pelos crimes cometidos pelas respetivas religiões ao longo do tempo.
Isso sim seria dar a vida pela remissão dos pecados e que não foram praticados pelos Homens profanos, mas pelos da igreja.
Falta coragem neste mundo e a cobardia é assassina.
Se Leo mandasse a selva podia ser mais perigosa...
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