Grécia – quo vadis?
Por Antunes Ferreira
O folhetim do chamado
caso grego ainda continua e parece que não terá um happy end rápido. Aliás, nem happy
nem end. As duas partes em
conflito persistiam na defesa das suas propostas; como se sabe, dum lado o Sirysa
(o super esquerdista partido da Grécia no poder, que é o mau da fita) – do
outro os bens, ou seja os credores: a Comissão Europeia representando a
(des)União Europeia, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BCE, o Banco
Central Europeu. São os membros da malfadada troika, supostamente representando
os país da união monetária menos um: a citada Grécia.
A Zona Euro persiste
numa mistura explosiva: na expectativa e em pânico. E a Führer Angela suposta
autora da segunda edição, revista e ampliada, do “Mein Kampf”, que é realmente
a patroa dos bons, vê-se em palpos de aranha para tentar acalmar os “mais bons”
e os “menos bons” uma divisão que pode vir a ser o princípio da falência e o
subsequente epitáfio da Europa (des)Unida. Pelo andar da carruagem, Portugal
faz parte dos “mais”, de acordo com os discursos dos supostos PR e PM.
A procissão hesita
entre sair do adro e nem sequer a ele ter chegado. Os portadores dos andores,
porém e como sempre, os Zés Povinhos dos países, o que quer dizer que são os povos
das diversas nacionalidades que amocham, pagam os seus impostos e aguentam até
haver uma decisão final. Os grafitis nas paredes “Os ricos que paguem a crise”
foram substituídos por “Os pobres que paguem a crise”. A Europa está à beira do
abismo e pode haver um louco que dê a ordem: um passo em frente, marche! Europa
– quo vadis? Grécia também quo vadis?
Tente-se fazer o ponto
da situação, pelo menos aquela que na quinta-feira era possível e que, se
calhar, quando este texto sair a público, já não é, quiçá continue a ser.
Recorra-se, uma vez mais à comunicação social que terá encontrado uma válvula
de escarpe para a pré(?) campanha eleitoral…E para a agredida Ucrânia que hoje
só é motivo de umas quantas linhas, apesar de continuar a ser agredida e invadida
pelas tropas de Moscovo.
“Os ministros das Finanças da Zona Euro reúnem-se este sábado pela quinta
vez no espaço de dez dias, num novo esforço para tentar chegar a um acordo que
permita à Grécia evitar a entrada em incumprimento. Depois de novo impasse nas
negociações, a Grécia só tem alguns dias para obter financiamento, já que tem
de devolver a 30 de Junho 1,6 mil milhões de euros ao FMI.” Diz a Lusa. Por outro lado “A
agência Reuters já confirmou esta informação e adianta que depois de o Eurogrupo realizado na
quinta-feira, 25 de Junho, não ter permitido chegar a um acordo sobre o plano
de reformas que Atenas terá de implementar para poder receber a última tranche
de 7,2 mil milhões de euros, prevista no programa de assistência helénico ainda
em curso e que também termina no dia 30 de Junho, os ministros das Finanças
farão um novo esforço para desbloquear a situação já no próximo sábado”.
Depois das declarações que na
segunda-feira indiciavam que a proposta apresentada nessa manhã pelas
autoridades helénicas permitiria atingir um acordo final ainda esta semana, as
negociações ao nível técnico não confirmaram as expectativas. Apesar das cedências feitas de ambos os lados da negociação, o Eurogrupo (…) não chegou mais uma vez a um
acordo. Fräu Merkel “referiu-se ao recuo da
Grécia como factor impeditivo da concretização de um acordo abrangente de
reformas, colocando nas mãos dos ministros das Finanças a responsabilidade de encontrar
um caminho que satisfaça todas as partes”.
Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis estão cada
vez mais entre a espada e a parede. Poderão ser vitimas de um diktat do
Eurogrupo, melhor dizendo da sua boss Angela. Voltamos a 1939/45? Será a
chanceler alemã capaz de fazer pela via das finanças o que Adolf Hitler não
conseguiu alcançar manu militari?
Mas, por outro lado, a saída da Grécia também poderá apontar para a
desagregação da Europa (des)Unida? A dicotomia é apavorante para os dois lados:
a derrota do Sirysa ou a …derrota da Europa.
Depois de o primeiro-ministro grego ter anunciado um
referendo aos gregos, estes foram para a rua, não para protestar, mas para
levantar dinheiro nas caixas multibanco. No entretanto, o ministro grego da
Defesa Panos Kammenos, do partido Gregos Independentes (Anel), admitiu hoje de
manhã que o Governo pode recuar no referendo se os parceiros da zona euro
aceitarem a proposta de acordo apresentada por Atenas.
Em Lisboa Cavaco (por via da caríssima
esposa), Passos & Portas e Maria Albuquerque rezam à Virgem de Fátima para
que poise numa nova azinheira, resolvendo assim o impasse, mesmo que seja
necessário fazer rebolar o Sol. Será que um milagre resolverá a crise europeia?
Dificilmente isso acontecerá. A Senhora tem mais coisas para se ocupar e
preocupar do que de mais uma crise do Velho Continente, que são peanuts para a
corte celestial (se ela existe…)
Por mais incrível que pareça, de Bruxelas surgiu a notícia de
que a Grécia não se pode queixar de falta de flexibilidade da troika, porque para os outros
países sujeitos a programas não foram feitas tantas cedências. Esta tem sido a
posição de Portugal nos últimos dias de negociações com a troika e foi a ideia defendida
por Coelho no final do conselho europeu terminado ontem. Realmente quer o venerando Chefe de Estado quer o
(des)Governo vêm sendo mais papistas do que o Papa. Oxalá não lhe estale a
castanha na boca.
Em Moscovo, o filho da Putina esfrega as mãos
de contente. Poderá apoiar a Grécia do Sirysa? Com quê? Com o rublo
desvalorizado? Mas, mesmo assim, a “receita da” troika, a austeridade, está a
fazer esquecer a invasão da Crimeia e agora da Ucrânia pelas tropas de Moscovo.
Para Beijing, a tradicional e esfíngica paciência ainda está em banho-maria. O
bem de uns é sempre o mal de outros. Ou seja, como diz o povo, “pimenta no cu
dos outros é refresco para muitos”
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