A Tragédia Grega
Prometeu agrilhoado, pintura em cerâmca grega, estilo clássico (séc. V e IV a. C.)
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Por A. M. Galpim de Carvalho
Nos dias difíceis e de grande incerteza que estamos a viver, entendo ser meu dever e meu direito de cidadania intervir mais activa e publicamente no debate político a que se assiste no nosso país e na Europa.
Nos dias difíceis e de grande incerteza que estamos a viver, entendo ser meu dever e meu direito de cidadania intervir mais activa e publicamente no debate político a que se assiste no nosso país e na Europa.
Como escreveu há dias Bernardina Sebastião, na sua página do FB, estamos a assistir em Bruxelas ao recuo civilizacional da Europa e é, precisamente, este sentimento que me invade. Vindo de diversos media, através da palavra falada e escrita de analistas que muito estimo, este recuo afigura-se-me como um prenúncio de mais uma tragédia grega que, desta vez, não deixará de irradiar consequências indesejáveis.
Para Ésquilo (524-455 a. C.), considerado o pai da tragédia grega, há cerca de 25 séculos, Prometeu era um dos seus grandes heróis que lutavam contra os caprichos dos deuses e dos poderosos. Prometeus são hoje todos os gregos que lutam contra a indignidade a que estão a ser sujeitos.
Na capital dos belgas, o poder do dinheiro (maioritariamente representado por governantes e tecnocratas dos países ricos e pelos que, não o sendo, gostavam de o ser) tem vindo a humilhar despudoradamente o povo grego. O berço da civilização ocidental e da democracia a, vítima da má governação e da corrupção de décadas, corre sério risco de sucumbir face à vertigem insaciável do capitalismo. Com o ainda muito provável afastamento da Grécia, como lembrou Viriato Soromenho Marques, no DN de 29.06.2015, «os que ficarem dentro do muro de uma "Europa alemã", com uma prosperidade cada vez mais aparente e efémera, talvez contemplem o espetáculo de desespero, sofrimento e grandeza de um povo que rejeitou a gamela para recuperar o direito à liberdade».
Assim como Prometeu, o povo grego está hoje agrilhoado.
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2 Comments:
Caro Professor:
Concordo absolutamente com o que diz, mas temos que ver que o POVO GREGO está hoje a pagar a corrupção e o descaminho ao país, de décadas de maus governantes. Como também nos está a acontecer. Gente séria e isenta, precisa-se; consegue vê-la? Eu não!
Nenhum povo pode ser destruído com supostas medidas correctivas aplicadas por poderes estrangeiros não eleitos, cujos aspectos "financistas" só têm aplicação aos fracos. Quando a Alemanha e a França ultrapassaram o estipulado para os seus défices não aconteceu nada. E os valores tinham sido definidos segundo a vontade (e à medida) desses países, particularmente a Alemanha. Alemanha que, há setenta anos, viu perdoada grossa fatia da sua dívida, na sequência dos maiores males que já foram provocados à humanidade.
Os gregos tiveram governos corruptos? Seguramente tiveram. Mas quem alimentou essa corrupção? E quem beneficiou dela?
Por isso, sou pelos gregos e pela sua atitude insubmissamente digna.
E por isso, aprecio muito este texto do Professor Galopim.
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