5.5.16

O PR, os políticos de cristal e a síndrome de esquerda

Por C. B. Esperança
Marcelo Rebelo de Sousa vive em lua de mel com os portugueses. Neste momento teria aumentado a percentagem de votos que o dispensou da segunda volta, de acordo com as sondagens, mas não se livra do coro de críticas de alguma esquerda com necessidade de afirmação ou de imitar Cavaco, “eu bem avisei”, como se houvesse mérito na previsão do que se espera do atual inquilino de Belém.

Quem acompanha a política, conhece o passado e o pensamento do PR, sem esperar que o político conservador se confunda com a esquerda que cada um deseja. É por isso que, face ao comportamento exemplar de cooperação que tem mantido com os outros órgãos de soberania, se afigura prematura, imprópria e contraproducente a campanha de quem, também à esquerda, parece não se conformar com a normalidade democrática.

A crítica é prematura porque não ultrapassou as competências institucionais, imprópria porque não respeita o período de nojo a que a derrota do(s) [nosso(s)] candidato(s) deve obrigar e contraproducente porque revela ressentimento e aparenta ausência de espírito democrático de quem critica.

Os que criticam o PR, sem uma pausa, sem benefício da dúvida, sem verem a diferença entre o que saiu e o que veio, sem esperarem por razões mais substantivas para a crítica, parecem políticos de cristal, designando aqui o cristal não no sentido que a química e a mineralogia lhe atribuem, mas referido a vidros cuja elevada transparência e qualidade não impede a sua enorme fragilidade.

É esta fragilidade que temo nos que foram demasiado benevolentes com Cavaco e nos que, por estarem prematuramente contra, perdem credibilidade nas críticas que fizerem quando o atual PR der razões evidentes para ser criticado.

Como derrotado que fui nas eleições presidenciais, não me sinto no direito de o criticar por não me rever no seu pensamento, mas fá-lo-ei quando, e se, trair a lealdade que deve à Constituição, manifestar um projeto de poder pessoal ou reincidir em gestos de duvidoso espírito republicano e laico, como sucedeu no deplorável beija-mão ao Papa.

Até lá, é o meu PR, de um quadrante político de que sou adversário. A síndrome de esquerda acaba por descredibilizar, limitar a pedagogia cívica e beneficiar a direita. Não se afigura séria, útil ou inteligente a antecipação das críticas.


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3 Comments:

Blogger opjj said...

Eu bem lhe disse que com as suas afrontas iria levar com Marcelo na cabeça.Mas vai levar mais quando se acabar a cheta para os improdutivos que se sustentam à mesa do orçamento.Sem cheta não há constituição que valha aos pobres. Estes serão sempre pobres.

5 de maio de 2016 às 15:15  
Blogger Ilha da lua said...

Gostei do post.Uma atitude lúcida, correcta e democrática

6 de maio de 2016 às 00:36  
Blogger José Batista said...

Ainda não tinha lido este belo texto.
Dou os parabéns ao autor.

7 de maio de 2016 às 22:32  

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