Sem emenda - Causas do não crescimento…
Por António Barreto
A ausência de crescimento
económico é o grande problema da sociedade portuguesa actual. Com crescimento
médio de zero desde o início do século, desaparecem as hipóteses de emprego, de
financiamento da segurança social e de suporte dos sistemas de educação, de
saúde e de justiça.
Com a globalização, foram criadas
condições tais para os países fornecedores de mão-de-obra barata que Portugal
perdeu grande parte da sua capacidade de manufactura. O rápido desaparecimento
da indústria transformadora aumentou a fragilidade da economia. Nalguns países
europeus, a indústria em declínio foi substituída por outros sectores,
designadamente de serviços. Entre nós, esse processo foi lento e insuficiente.
Com o que aumentaram os problemas da balança comercial e diminuiu a capacidade
de criação de emprego.
Depois dos grandes apoios que
constituíram os fundos, a União Europeia acabou por se transformar num
colete-de-forças que retirou a Portugal capacidade de tratar da sua própria
economia, dos seus custos e da sua moeda. O Euro foi talvez o mais duro
obstáculo às eventuais políticas de promoção de competitividade da economia
portuguesa. Com o Euro, não se conseguiu a tão necessária disciplina financeira
dos políticos portugueses. Qualquer abrandamento ou qualquer recessão na Europa
transforma-se num desastre em Portugal.
As
políticas públicas portuguesas seguidas nestas últimas décadas acrescentaram
prejuízos e tiveram efeitos muito negativos. A instabilidade e a demagogia, seguramente. O favoritismo e a
corrupção, como se sabe. A visão eleitoral e de curto prazo, sem dúvida. Ao que
se acrescenta uma Administração Pública de má qualidade, dependente do governo,
com uma burocracia excessiva, uma corrupção permanente e uma Justiça muito
insuficiente e morosa.
O crescimento permanente do
Estado, da respectiva despesa e em especial das despesas sociais criou mais
défice e aumentou o endividamento. Para que o Estado cresça sem travão, é
necessária uma fiscalidade sem abrandamento. Tudo leva a crer que esta tenha
chegado a níveis insuportáveis, incompatíveis com a expansão do investimento. Este
último é desencorajado como raramente na história do país.
Ainda por cima, a falta de
capital (e de capitalistas…) é agora crónica e quase irremediável. Falta porque
não existe. Falta porque não tem atractivos. Falta porque fugiu para locais
mais seguros e produtivos. Falta porque procura sítios com menor fiscalidade e
menores ameaças de esbulho. Fogem finalmente os capitais à procura de sociedades
com mais tolerância para o investimento privado e com governos mais dispostos a
programas de segurança.
As causas da falta de crescimento
são de diversa ordem. Podem ser externas e nacionais. Estas últimas são as
políticas. Porque têm maus resultados, evidentemente. Mas o pior é o facto de
terem enfraquecido o país, de lhe terem destruído recursos e de o terem
impedido de reagir melhor aos males que vêm de fora. O colossal endividamento
português é o lugar geométrico das políticas públicas erradas, do crescimento
ilimitado do consumo e das prestações sociais e da debilidade do capitalismo
português.
Finalmente, um sindicalismo
agressivo, politizado e partidário. Já foi mais agressivo nos anos setenta,
hoje é menos nos sectores privados, mas ainda é áspero e pouco dado a
negociação nos sectores públicos, como na educação, na saúde, na administração
central, nas autarquias, no caminho-de-ferro e nos portos, assim como nos
sectores, nos transportes, por exemplo, com grande influência do Estado. Os
governos de direita não sabem nem querem negociar com os sindicatos. Os
governos de esquerda submetem-se aos sindicatos. O resultado não é bom para
ninguém, trabalho, Estado ou capital.
DN, 11 de Dezembro de
2016
Etiquetas: AMB
1 Comments:
Um cenário realista e preocupante...Num optimismo delirante,a pensar a curto prazo,lá vamos nós sem saber para onde...
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