Terrorismo e religião
Por C. Barroco Esperança
Pode dizer-se que sob a capa das religiões se abrigam interesses económicos e políticos, mas isso não absolve os crimes que praticam. Aliás, a separação das Igrejas do Estado nunca foi vontade das religiões, mas imposta pelos Estados através da repressão política do seu clero.
A laicidade ainda hoje é acolhida com azedume pelas religiões obrigadas a aceitá-la, e é um conceito alheio ao Islão, dificilmente assimilável pelo cristianismo ortodoxo e cada vez mais desprezado pelas Igrejas evangélicas.
A globalização trouxe às crenças, há séculos delimitadas geograficamente, o desafio de se tornarem globais (totalitárias) e o medo de se diluírem ou, mesmo, de desaparecerem.
O proselitismo de que algumas se encontram imbuídas transmite aos crentes a ânsia do apostolado, com a febre do martírio a corroê-los e a violência a empolgá-los.
A falência da civilização árabe, a que não é alheia a islamização, leva ao desespero dos muçulmanos, que veem no Paraíso a única oportunidade coletiva de fruírem ‘rios de mel doce’, prados verdejantes, sombras e virgens em abundância para crentes a quem tudo é interdito pela versão mais implacável dos monoteísmos, ainda que tenham de assassinar todos os crentes da concorrência e, sobretudo, os não crentes.
O fundamentalismo que caracteriza importantes comunidades islamitas não é exclusivo do Islão nem este a primeira religião contaminada. Aliás, a palavra ‘fundamentalismo’, surgiu no início do século XX para designar o protestantismo evangélico que não parou de o fortalecer.
A falta de etapas que moldaram o cristianismo, o Renascimento, a Reforma protestante, o Iluminismo e a Revolução francesa, deixaram o islamismo a perpetuar as sociedades tribais e patriarcais, onde nasceram os monoteísmos, tornando-se um fascismo religioso onde a laicidade é inaceitável e a emancipação da mulher ainda mais intolerável.
Os constrangimentos sociais em sociedades tribais e/ou tribalizadas tornam improvável a mínima evolução pacífica. As retumbantes vitórias do despotismo sobre a democracia, em eleições democráticas, explicam o paradoxo de serem as ditaduras laicas a garantir o pluralismo religioso e alguns direitos cívicos, e os governos eleitos democraticamente a consolidarem o totalitarismo religioso.
Os acontecimentos do dia 11 deste mês, no Egito, longe de serem dos mais graves, são a ilustração daquilo em que se converteu o Islão, o sistema totalitário onde a conversão ou a morte são as alternativas. O atentado à bomba contra a catedral São Marco, no Cairo, com pelo menos 25 mortes e meia centena de feridos, de cristãos coptas (10% da população do país). é uma metáfora da alegada misericórdia do Profeta cuja inspiração vai erradicando qualquer ‘heresia’ dos países onde não se concebe um Estado que não se funde na religião e não se confunda com ela.
Ponte Europa / SorumbáticoEtiquetas: CBE
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