Sem emenda - Prova dos nove…
Por António Barreto
Era, há muitos, muitos anos, uma
cantilena infantil apropriada a descobrir os mistérios dos números. Matrículas
de automóveis e aniversários, por exemplo. Ou então, em vésperas de ano novo,
tirava-se a prova dos nove. 2017? Dois mais um, três, mais sete, dez, noves
fora um: é o primeiro, ganha tudo! Em 2016, noves fora nada: perde tudo! Em
2019, noves fora três: é a conta que Deus fez. Ou 2014, noves fora sete: quem
não pode não promete! Batia sempre certo. Quase…
A prova dos nove, para Portugal de
2017, começa agora, hoje mesmo, primeiro de Janeiro. O ano vai ser
especialmente difícil. Aliás, os clichés mais gastos são todos verdadeiros: “incerteza”,
“ameaça”, “perigos” e “riscos”. Centenas de pessoas perguntadas pelos jornais e
pelas televisões, optimistas e pessimistas, começam e concluem os seus testemunhos
com as mesmas expressões.
Será Portugal capaz de combater a
crise instalada e aparentemente adormecida? Poderão os dirigentes políticos e
económicos encontrar soluções para os nós que parecem cegos? Quem observa e
quem vê gosta de se entreter a prever a duração e a habilidade. É um passatempo
divertido, mas inútil. Por maior que seja o jeito e a esperteza, enquanto não
houver investimento e crescimento, tudo se manterá frágil e perigoso.
O pior de tudo é talvez o
endividamento, o que vem de trás e o que não cessa de aumentar. É seguramente a
maior chaga de que o país sofre. Apesar da tendência dominante para subestimar
os efeitos do endividamento, a verdade é que este é tão nefasto quanto a falta
de liberdade, o caos nas ruas, o desemprego ou a miséria. Com a agravante de
ter feito de Portugal um pária dependente. Ainda hoje, é lamentável ver como
grande parte dos dirigentes e até mesmo da população não considera a dívida
realidade ameaçadora. Muitos Portugueses têm uma atitude como a do fidalgo
arruinado, com gostos caros, poucos recursos e a impressão de que tudo lhe é
devido. Muitos acham mesmo que não se deve pagar a dívida e que tal atitude é virtude
soberana.
A verdadeira prova dos nove é a
do investimento e do crescimento económico. Sem um e outro, não haverá
bem-estar, nem equidade, nem menor desigualdade, nem mais justiça, nem melhor
educação e mais saúde. A prova dos nove não será a dos subsídios, dos aumentos
de pensões, de férias e feriados, da redução de horas de trabalho, do aumento
de salários mínimos e médios, dos benefícios de saúde e de educação ou dos
abonos sociais de toda a espécie. Se tudo isso, que é excelente, não resultar
do crescimento económico, do investimento, do aumento da competitividade, da
abertura de novas oportunidades comerciais e das melhorias na organização do
trabalho, então tudo isso será demagogia de pouca duração. Será mesmo a antecâmara
do desastre. Essa é a prova dos nove: o investimento, que gera crescimento, que
produz desenvolvimento e que está na origem do progresso social. A prova dos
nove deste governo não é a da sua duração nem a da solidez do seu apoio
parlamentar. Não é difícil obter sustentação enquanto os três perceberem que os
que caírem morrem. A prova também não é a dos resultados das múltiplas
negociações e dos numerosos compromissos que, todas as semanas, o Governo tem
de realizar com os partidos da esquerda parlamentar. É fácil negociar quando
todos têm a ganhar e todos receiam o adversário. É fácil enquanto se pode
assinar cheques. A verdadeira prova dos nove não será a do aumento da despesa,
mas sim a da diminuição do endividamento.
A superstição da numerologia é
favorável. 2017? Dois mais um, três, mais sete, dez, noves fora um: é o
primeiro, ganha tudo! Se houver investimento… Se não, noves fora nada!
DN, 1 de Janeiro de
2017
Etiquetas: AMB
2 Comments:
Pois, estamos num bom assado.
Hoje tive que fazer um percurso de 300 Km no sentido norte - sul, pela A3 - A1 - A8 e depois o inverso (os mesmos 300 Km), mas agora pela A8 - A29 - A3. O movimento era relativamente pouco, especialmente na A8 e muito particularmente na A29, em que viajei praticamente sem outros carros à vista. E pensava: para que servem duas auto-estradas em paralelo, ambas não muito longe da costa (e uma da outra), num país retangular com uma largura inferior a 200 Km? Ora, trata-se de obras caras, com rendas proibitivas, que pagamos com língua de palmo.
E este meu sentimento foi agravado quando, em Aveiro, passava uma "tangente" pela esquerda daquele elefante espalhafatosamente garrido que é o estádio de futebol construído para o euro 2014. Quase me apeteceu gritar: Viva Portugal rico!
E responsáveis não houve, não houve, não há nem haverá...
Tal o povo tais os dirigentes que tem (tido).
Uma superstição que invariavelmente me vem à cabeça quando começa um novo Ano Este Ano é favorável.Que o mundo ganhe;Paz,Democracia,Prosperidade. Um Bom Ano para todos
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