1.12.17

NARRATIVA DE VIAGEM E ENCONTROS PELO MINHO COM PERCURSO DETERMINADO MAS SEM FIM À VISTA

Por Joaquim Letria

Esta semana, faço uma interrupção voluntária de… aridez de comentar as ideias de terceiros e de contar as histórias dos outros, a que semanalmente aqui me dedico, Em vez disso, relato-vos uma breve, súbita e inesperada incursão pelo Alto Minho e pela Galiza, difícil de esquecer por tão agradável ter sido.
Foi já a meio da semana que recebi guia de marcha da Direcção do “Minho Digital” para me apresentar no seu território, preparado, sem recalcitrar, a fim de pernoitar no RINOTERRA HOTEL, na freguesia de Seixas, em Caminha e pronto para o que desse e viesse.
Após três vôos rasantes pela Freguesia de Seixas, com o Rio Minho a espreguiçar-se ao lado e o monumento de Santa Tecla a rir-se para mim na margem espanhola, descobri o RINOTERRA HOTEL e, após me certificar do acerto do local, toquei à campainha duma casa senhorial para ver o seu portão de ferro abrir-se silenciosamente e uma jovem morena e bem parecida, Liliana Cunha de seu nome, me dizer que estavam  à nossa espera.
Os vôos rasantes só se explicam pelo facto da Junta de Freguesia e poderes autárquicos de Caminha quererem manter no anonimato um dos melhores hotéis de charme da Europa, que por acaso é este e fica em Seixas, Caminha, Alto Minho.

Porquê? Não sei. É um mistério que faz com que a simples placa com o nome RINOTERRA HOTEL seja uma indicação quase confidencial, escondida entre arbustos,  como se não se entendesse que a qualidade ímpar do local é apreciada e mantida  apenas na esfera  restrita da exclusividade dos que contam, por  ser conhecida somente através duma criptografia quase secreta a que José Luís Manso Preto me deu acesso.
Liliana mostrou-nos onde guardar a bagagem no quarto, uma bela suite com sala ao lado e chão aquecido com os requintes e os pormenores que já observáramos no salão – as figurinhas de biscuit em nichos delicados, gravuras e boa pintura, máscaras do carnaval de Veneza, a beleza da ourivesaria, das rendas e linhos de bordados minhotos , o espaço,  conforto e gosto do mobiliário, livros e revistas em prateleiras acolhedoras—uma  casa de banho quente e confortável. Que pena termos de mudar de roupa e saír…
Foi precisamente à saída, preparávamo-nos para o encontro aprazado com o Director do Minho Digital, que surgiu Angela Martinez, sorridente, loira e comunicativa. Não, muito obrigado mas não queríamos o “chá das 5”. Iamos sair. Sem perda de tempo surge-nos a chef Ana Guimarães, uma jovem cozinheira licenciada em Design de Moda cuja excelência na cozinha justifica a troca do estirador e das tesouras pelos tachos e panelas, e cuja dimensão comprovaríamos no jantar do dia seguinte. Ficámos a saber que ali não há menu. Há apenas conversa rápida: ”Carne ou peixe?!E como gosta? Sim senhor, deixe connosco”.
E saímos. Só na manhã seguinte experimentaríamos o gosto delicado dos pequenos crepes recheados de queijo derretido com amoras, o “porridge” com as compotas de “kiwi” e de “physalis” a adoçarem-nos a boca para todo o sempre e um café e chá e leite de verdade. Repetiria aquele pequeno-almoço pelo resto da minha vida…
No lusco-fusco do crepúsculo divisámos o vulto de um casal e a singela silhueta do Director  do Minho Digital, jornalista José Luis Manso Preto, dos maiores jornalistas de Portugal – em todos os sentidos –paladino da luta  ao narcotráfico e por isso mesmo uma figura estimável e reconhecida em Portugal e Espanha.
 Com poucas palavras seguimos no seu “sedan” para Cardielos onde o seu amigo Sr. José nos aguardava com o seu restaurante “SABORES” fechado ao público  e uma posta mirandesa e um cabrito assado só para nós, regados a brancos e tintos, verdes e maduros.
O casal revelava-se finalmente à luz eléctrica de Cardielos. Uma senhora de superior beleza e inteligência de seu nome Mercedes e ele, o afortunado e simpático marido, D. Eduardo de Céspedes, empresário catalão de nascimento, galego de adopção, residentes em Vigo, ambos  cidadãos e viajantes do Mundo.
Juntar-se-ia ao grupo – eu, minha mulher, José Luis Manso Preto, Sr. José de Cardielos, Mercedes e Eduardo de Céspedes, mais um outro par, ambos provenientes de Viana do Castelo  para tomar café connosco– ela, jovem irrequieta e de boa alma, Sofia Maciel, ele João Carvalho, 2º Comandante dos Bombeiros Municipais de Viana do Castelo. Ela, angariara, reunira e distribuíra centenas de litros de azeite e toneladas de alimentos às vítimas dos incêndios de Pedrogão, ele trabalhara ali todas as férias a ajudar vítimas do fogo, depois de ali ter combatido as chamas, ambos heróis de Viana.
Trocámos muitas histórias, experiências,  memórias,  riso e amizade àquela mesa.  Foi já no regresso a Seixas que recebemos outra incumbência: ir, no dia seguinte, almoçar a Oia, uma vila piscatória na Galiza, a 17 quilómetros de Seixas e do RINOTERRA HOTEL. Deveríamos procurar a CASA HENRIQUETA e falar com  Esteban. A meio da manhã apanhámos o “ferry”. Dez minutos de travessia e estávamos na Galiza. Cedo demais para almoçar, para mais à hora espanhola. Fomos a Tui, a da assinatura da paz que dura até hoje. Regressámos por Vila Nova de Cerveira e A Guarda, logo Oia, o mar a espumar nas rochas, o cheiro a maresia que encontraríamos na santola e no robalo que Esteban nos preparara. A nossa incumbência era comer e regressar a tempo do jantar de despedida no RINOTERRA HOTEL.
 E como foi bom, aquele jantar, a tábua de queijos, o bacalhau com broa de milho que Ana Guimarães preparara! Depois, de manhã, já a meter a mala no carro, conhecemos o proprietário deste feliz hotel : Ilya Serbin, um russo de  corpo bem feito por muitas horas de ginásio, de apurada aparência, calção irrepreensível  e botas de montar imaculadas, de calf castanho, os bíceps a rebentarem as mangas da T-shirt.  Educado, deu para fazermos em pé um rápido tour de horizonte, falar de Putin e eu lhe confessar a minha admiração pelo modo como este estadista vai conduzindo a Rússia  no concerto das nações. Percebi no Sr. Serbin algumas dúvidas inteligentes. Conversar sobre a Rússia, a Europa e o Mundo só poderá ser da próxima vez que eu vá a Seixas ou Ilya Serbin se digne a visitar a Verdizela.
No regresso, por alturas de Cacia, onde fui expressamente comer um bife no churrasco num restaurante de retornados da Venezuela, a minha mulher perguntou-me:
— Afinal, o que fomos fazer ao Minho?!
Respondi:
— Muita coisa! Conhecer o Paraíso escondido que é o RINOTERRA HOTEL em Seixas,  o RESTAURANTE SABORES em Cardielos, a CASA HENRIQUETA em Oia, descobrir gente muito interessante de que o Minho está cheio, encontrar uma verdadeira riqueza. Achas pouco?!
.
NOTA: Ver fotos adicionais [AQUI]
Publicado no Minho Digital

Etiquetas:

1 Comments:

Blogger 500 said...

Tão bem descrito que ate me julgo na comitiva, o que também não pouco.

2 de dezembro de 2017 às 17:28  

Enviar um comentário

<< Home