10.1.18

A propósito de "Star Wars"

A crónica do Nuno Crato é muito interessante, mas em alguns aspectos não concordo com ela.
Claro que é muito bom que o ficcionista se mantenha dentro dos princípios do "possível" - Júlio Verne, mesmo nas suas obras mais delirantes, esforçava-se por isso.
Mas em ficção há uma coisa chamada "suspensão da descrença": o pacto entre o autor e o leitor (ou espectador) em que ambos fazem de conta que o que estão a ler (ou ver) é verdade (ou, pelo menos, podia sê-lo).
E, em muitos casos, esse faz-de-conta pode entrar pelo impossível adentro.
Que diabo! Então não é isso que fazem tantos autores consagrados (como H. G. Wells, Michael Crichton, Spielberg e por aí fora) com — p. ex. — as suas Máquinas-do-Tempo, algo que eles mesmos sabiam ser impossível? 
Percebe-se que Nuno Crato se insurge porque em Star Wars se pede demais a essa "suspensão da descrença", e as suas clarificações são óptimas pedagogicamente. Simplesmente, eu julgo que exagera um pouco...
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Mas, atenção: já não digo o mesmo em relação ao que a imagem mostra, onde as cores do arco-íris estão na sequência errada! (*). Trata-se de um erro famoso, desnecessário para a história, e incompreensível — tanto mais que Hergé era, precisamente, um autor extremamente cuidadoso.
(*) - Esta sequência estaria correcta para o arco-íris secundário, que por vezes se consegue ver por cima do principal. Mas não é este o caso, obviamente.

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4 Comments:

Blogger Plácido said...

Absolutamente de acordo.
Esse Sr. Crato está, como se costuma dizer, apenas "armado em esperto"

10 de janeiro de 2018 às 11:22  
Blogger José Batista said...

Concordo com o que diz CMR.
Mas não penso que Nuno Crato se esteja a «armar em esperto». Antes pelo contrário, há muito que eu esperava que algum intelectual viesse abordar esta questão como ele o faz. E logo com exemplos tão claramente pedagógicos (o que aprecio e agradeço). O mal virá dos nomes que damos às coisas, por interesses diversos... muitas vezes para vender gato por lebre, normalmente à custa da ignorância do público.

Eu bem digo: o Sorumbático renasce. E com que qualidade!

10 de janeiro de 2018 às 14:17  
Blogger Ilha da lua said...

O CMR diz tudo em poucas linhas A ficção é a suspensão da descrença. Um pacto entre o autor e o leitor ou espectador...um fazer de conta.
Alguém disse um dia, que o verdadeiro sinal de inteligência, não era o conhecimento, mas a imaginação...

10 de janeiro de 2018 às 15:39  
Blogger SLGS said...

Nuno Crato, num texto muito interessante preocupou-se em mostrar-nos os "erros" do ficcionista, na valência extrema de que a ficção não deve ir além do considerado possível. Respeito, mas não concordo. Neste tipo de obras, o conceito de ficção é ir para além de... é deixar extravasar a imaginação, é "sonhar" livremente num mundo fantástico onde não há impossíveis. Só assim me concebo a assistir ou a ler, obras desta natureza. Depois de assistir a um filme destes, é completamente impossível para mim fazer uma crítica como fez NC. Já o mesmo não digo quando assisto ou leio obras pretensamente sérias, cheias de erros crassos, o que acontece com frequência maior que a desejável.

10 de janeiro de 2018 às 18:55  

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