TALES DE MILETO (c. 623-546 a.C.)
Que ao
ensinar aos alunos o teorema de Tales, se lhes diga quem foi este filósofo que
está nos alicerces da nossa forma de pensar
Por A. M. Galopim de Carvalho
Diz-se
que a filosofia ocidental nasceu na Grécia, entre os séculos VII e VI a. C., quando
alguns dos seus habitantes mais letrados esboçaram as primeiras tentativas de
explicar o mundo que os rodeava sem recorrerem à mitologia, recurso esse que
era a prática comum da época. Só meio século, depois, Pitágoras (circa 570-495
a.C.) deu o nome de FILOSOFIA a essa atitude mental.
Nascido em Mileto, cidade da Jónia, na Ásia Menor (atual Turquia), então
colónia grega, Thales terá sido o primeiro pensador a romper com o ponto de
vista religioso e, como tal, o primeiro filósofo ocidental. As datas dos seus
nascimento e morte são incertas, sabendo-se, porém, com segurança, que ele
viveu no período compreendido entre o final do século VII e meados do século VI
a.C.
Todavia, há quem atribua que esta sua colocação em destaque resultou,
sobretudo, da acção política que desenvolveu no propósito de unir as
cidades-estados (“polys”, em grego), da Ásia Menor, numa confederação,
fortalecendo-as face às ameaças de invasões de povos orientais.
Apontado
por Aristóteles (384-322 a.C.) como o primeiro filósofo da humanidade, deve ser
lembrado, sobretudo, por ter proposto uma nova visão de mundo cuja base
racional, em sua opinião, era passível de ser repensada, reformulada e, até,
substituída. Thales fundou, em Mileto, a renomada Escola Jónica e defendeu,
como outros da sua escola, o materialismo monista, ou seja, explicação do mundo
físico, aceitando que todos os seres, no sentido de objectos ou coisas, são
compostos por um único elemento ou substância.
Este
filósofo considerava a água como sendo esse elemento ou substância primordial,
habitualmente referido por “princípio único” (“arkhe”, na versão grega).
Segundo ele o mundo teria evoluído, por processos naturais, a partir desse
elemento que caía do céu, que brotava das fontes, corria nos rios e formava os
mares, e disse-o mais de dois mil anos antes do grande evolucionista Charles
Darwin. Nessa convicção atribui-se-lhe o desabrochar do conceito de evolução.
Ao observar a natureza, incluindo o Universo visível, e os fenómenos
naturais, Tales não só procurou o “arkhe”, para ele, como se disse, a água,
como também a explicação de tudo o que os sentidos lhe traziam ao conhecimento,
eliminando o sobrenatural, dando exclusividade à razão (raciocínio), tornando
esse conhecimento acessível aos seus semelhantes.
Para alguns, a importância de Tales situa-se ainda no campo da matemática e
da geometria, ao introduzir na Grécia noções próprias desta disciplina,
trazidas do Oriente. Noções que desenvolveu e aperfeiçoou. Formulou dois
teoremas importantes, que se ensinam nas nossa escola, sendo que um deles leva
seu nome. Como astrónomo, as suas contribuições resultaram das muitas
observações que realizou, tendo previsto um eclipse solar.
Entre os seus principais discípulos merecem destaque Anaximandro,
Anaxímenes e Heráclito.
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