UM BOM MOTIVO PARA IR A MADRID
Por Joaquim Letria
O Museu do Prado, em Madrid, voltou a expor a milhares dos seus visitantes “O triunfo da Morte”, obra prima de Pieter Bruegel o Velho, um óleo com perto de 500 anos.
Após delicadíssimos trabalhos de restauro levados a cabo ao longo de mais de um ano pelos especialistas do museu, o quadro recuperou a sua nitidez, a sua cor e o brilho originais. O que mais impressionou Maria Antónia Lopez foi encontrar as impressões digitais do autor, marcadas na fina película que cobria a obra original. A restauradora, que tratou da pintura centímetro a centímetro, confessou que encontrar-se com essa marca foi o que mais a comoveu e marcou neste trabalho.
Um dos objectivos foi recuperar a transparência do fumo nas diferentes intensidades, bem como mostrar o reflexo da torre na água que esteve oculto durante anos. A obra mostra a inexorável vitória da morte sobre todas as coisas e pessoas. Era a única que o Prado possuía deste pintor até em 2011 ter comprado o “Vinho da Festa de São Martinho”, peça que acompanha com a sua beleza a obra prima agora recuperada e exposta a milhares de visitantes que ali acorrem diariamente. É um quadro duma qualidade excepcional dum pintor essencial na história da arte europeia, ao mesmo nível de El Bosco. A peça reúne uma mistura rara das tradições medievais com uma imaginação espantosa. ´Pieter Bruegel começou a pintar tarde, na sua vida, quando de uma assentada pintou cerca de 40 quadros com uma maestria excepcional.
Embora fosse um pintor de elite e ortodoxo, Bruegel era independente e contava histórias do dia a dia. No “Triunfo da Morte” aparecem cenas como um esqueleto meditando sobre a morte dum pássaro que jaz diante duns peixes grandes que comem outros mais pequenos. Há uma aldeia arrasada, um juízo final e um batalhão de esqueletos que marcha para o inevitável.
A obra recuperou o tom original, de amarelos e ocres, azuis e vermelhos e matizes que haviam sido esbatidos por grosseiras operações anteriores. O quadro mostra as grandes preocupações medievais , especialmente com a presença maciça da morte. Por outro lado reflecte a tradição retórica da sátira o que faz dele um quadro muito divertido, justificando plenamente um pretexto para um salto a Madrid, acompanhado de viño de verano e umas orchatas e uma breve memória das zarzuelas.Tudo motivos válidos para fugirmos dos turiastas de Lisboa e do Porto, que são muito simpáticos e deixam cá muitos euros mas que parecem moscas.
Publicado no Minho Digital
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