2.11.18

AS FÉRIAS SINDICAIS NA PSP

Por Joaquim Letria
Dirigir a PSP nunca seria fácil, mas com a falta de efectivos e com o número de dirigentes sindicais, coitados dos intendentes, superintendentes e comissários que têm de governar aquele barco.
É verdade que os polícias ganham mal, não lhes pagam as horas extra, têm de comprar o fardamento, devem-lhe os serviços gratificados, trabalham em esquadras vergonhosas que os obrigam a ir urinar ao café e muito pouca gente reconhece o papel importantíssimo que desempenham no apoio à população e na segurança pública. Mas hoje já têm um comando de profissionais bem preparados e já não têm de se sujeitar aos desmandos duma boa parte de oficiais lateiros do exército que iam para a Polícia para ganhar mais. Logo, os polícias poderiam organizar-se melhor num ou dois sindicatos fortes.
Em vez disso, a PSP tem 16 sindicatos que, segundo a Direcção Nacional da PSP, ocupam legalmente o total de 3680 dirigentes e delegados que por direito expresso na lei goza mais de 36 mil dias de folgas sindicais num só ano, como aconteceu em 2017. Cada um tem direito a uma folga sindical por semana, que redunda em mais 32 dias de férias por ano, e por isso há sindicatos (como o dos polícias do Porto) que têm 24 associados, todos eles dirigentes e mais 12 delegados que deste modo usufruem deste turismo sindical. O Sindicato Livre tem 74% de associados que são dirigentes e a OSP tem 70 %. A primeira organização sindical dos polícias – ainda hoje respeitada – é a ASPP que conta com 7392 associados e existe desde 2002. Mas hoje é apenas mais um no meio de outros 15 sindicatos.
A ASPP lamenta que ao fim de 20 anos de luta, polícias e políticos estejam a destruir o sindicalismo da PSP que começou por ser proibido e se prestigiou com actividade e reivindicações muito difíceis de conseguir.
A ASPP atribui a esta proliferação de turismo sindical que infesta a PSP a causa das dificuldades de administrar os seus recursos humanos. Mas, principalmente, responsabiliza os políticos em geral e o PS e PSD em particular por manifestarem um desinteresse inadmissível que se arrasta há anos. A alteração da lei que permite esta rebaldaria necessita de dois terços do parlamento e em São Bento, como sabemos, aquela gente anda ocupada demais para se dedicar a este assunto.
Publicado no Minho Digital

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Um assunto de que ninguém fala e que é muito importante.
A proliferação de sindicatos também aconteceu noutras profissões, como a dos professores, nalguns casos estimulada pelos governos (que assim podiam facilmente iniciar os preâmbulos das leis com o habitual «ouvidas as organizações sindicais»...), o que redundou na desqualificação e desprezo dessas profissões, com profundos reflexos no que devia ser a sua acção.
É muito imperfeita e ineficaz, a nossa democracia...

3 de novembro de 2018 às 22:29  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Pouco depois de 1974 esse problema colocou-se de forma extremamente aguda.
Era a chamada "Unicidade Sindical" que previa que os sindicatos não se subdividissem em sindicatos afectos ao PCP, outros afectos ao PS, etc.
Essa unicidade acabou, e passou a haver uma UGT que, quase sempre, se opunha à CGTP.
Sabe-se quem ganhou e quem perdeu com isso, mas para mim, agora, tanto me faz como me fez.

4 de novembro de 2018 às 15:27  

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