5.1.19

Queremos aprender menos, ou deveremos aprender mais?

Por Nuno Crato
Será que queremos saber menos ou queremos saber mais? Há alguma dúvida!? Talvez, e talvez haja maneira de encorajar uma resposta contrária aquela em que o leitor está certamente a pensar.
Perguntemos a um jovem que está a entrar no Ensino Secundário se quer que o programa de matemática seja extenso ou que seja simplificado. Veremos que muitos – julgo que não a maioria – responderão que deve ser simplificado. 
Agora, refaçamos a pergunta de forma a facilitar a resposta: quererá o aluno ter um programa muito extenso, em que terá dificuldade em dominar as matérias e passará o tempo a correr para compreender superficialmente os temas, ou quererá o aluno ter tempo para perceber bem os conceitos, em vez de os memorizar apressadamente para os exames?
Variemos ligeiramente as questões e os sujeitos do inquérito. Perguntemos a um pai se prefere que o seu filho leia Os Maias ou outra obra qualquer deste escritor. 
Contextualizemos as coisas melhor. Estamos nas férias da Páscoa, em que a família quer ter um tempo descansado no Algarve, e os pais sentem-se obrigados a ajudar os filhos a prepararem-se para exame. Só o tamanho do livro pode desmoralizar o jovem em causa que, muito naturalmente, terá gosto em despachar as suas leituras e divertir-se com os amigos. 
Insistamos na pergunta: quererão os pais passar horas a insistir com o jovem para acabar esse extenso romance, ou preferirão que ele leia uma obra mais curta? 
Amaciemos ainda mais a tentação para a resposta: será que o jovem não compreenderá melhor um romance mais curto, não se recordará melhor do enredo, e não se preparará melhor para o exame, tendo assim oportunidade de, finalmente, entrar em engenharia, curso em que não voltará a ouvir falar de Eça de Queirós?
Afinal, o saber inútil não deve ser substituído por competências que nos preparem para o mercado de trabalho? 
Volto à pergunta do título: queremos todos aprender menos ou deveremos aprender mais?

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6 Comments:

Blogger Ilha da lua said...

Penso,que desde os primeiros anos deveríamos aprender a querer aprender mais

6 de janeiro de 2019 às 01:17  
Blogger SLGS said...

Eu penso que, perante a quantidade do TPC que os meus netos trazem para casa, os professores (que me perdoem os que realmente o são)deveriam ensinar mais na escola e não deixarem para os encarregados de educação (pais avós, etc.) o trabalho que lhes compete.

Penso que devemos aprender o suficiente e necessário para o percurso que queremos seguir.

O restante saber será sempre opção do indivíduo, que deve ser educado para o procurar e não se ficar pelo que basta.

6 de janeiro de 2019 às 17:13  
Blogger Ilha da lua said...

SLGS Tem toda a razão Ter gosto por aprender,querer aprender,tem que passar pela motivação e não pelo massacre dos TPC em quantidade...Para serem feitos quando as crianças já estão cansadas

6 de janeiro de 2019 às 18:18  
Blogger José Batista said...

Outro regresso que saúdo.
Muito pertinentes, as questões colocadas.
Das respostas tenho receio, porque suponho conhecê-las...
Porque será que os jovens e os adultos de diversos países, há muito tempo, sabem o que a população portuguesa insiste gostosamente (?) em ignorar?
Porque raio o pontapé na bola e as novelas e as políticas baixas parecem dominar as preocupações de todos?
E, além dessas, há ainda aquelas que respeitam ao enorme cansaço dos alunos (de que que se cansam eles?) e ao trabalho que dá prepará-los em casa (educando-os) para poderem aproveitar na escola.
Depois é o que se vê. Sem surpresas.
Obrigado, Professor Nuno Crato. Eu gostei de algumas medidas que tomou na sua passagem pelo mastodôntico ministério da educação. Depois pareceu-me que desacreditou da sua função e da possibilidade das reformas na escola pública. E a escola pública vai morrendo, para benefício dos negócios dos estabelecimentos privados. É uma pena. E os pobres portugueses vão continuar muito pobres, porque muito ignorantes, essencialmente.
Parece fado.

6 de janeiro de 2019 às 18:55  
Blogger Ilha da lua said...

Este comentário foi removido pelo autor.

6 de janeiro de 2019 às 22:47  
Anonymous Anónimo said...

Por boas que sejam as intenções, qualquer programa normalizado causa danos à diversidade de gostos e aptidões dos alunos.
Não tenho nada contra a ideia de uma escola privada, desenvolvida no livre mercado, assim como sou a favor da educação em casa, ministrada por tutores qualificados.
Acredito que a livre concorrência acabaria por desenvolver uma educação diferenciada e especializada para crianças brilhantes, normais e com dificuldades, etc. e de acordo com as suas preferências e aspirações.
A educação institucional é como a cama de Procusto... uma violência contra as crianças, onde o que se discute é se o livro deve ser mais curto ou mais grosso.
Os pais deveriam ter liberdade para educar os seus filhos num ambiente de espontaneidade, diversidade, independência e liberdade.
Quanto ao Sr. Professor Nuno Crato uma palavra de admiração pela coerência demonstrada aquando da sua passagem pelo governo, no sentido em que colocou em prática algumas das ideias que há muito defendia, inclusive neste blog. Deu grande exemplo de honradez e desprendimento. Qualidades a enaltecer.
Ribas

7 de janeiro de 2019 às 07:17  

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