3.1.19

A extrema-direita ressuscitou e floresce

Por C. Barroco Esperança
A posse de Bolsonaro, um primata abrutalhado que, após a expulsão do exército, correu como deputado, por numerosos partidos brasileiros, sem atividade legislativa, a recolher benefícios do cargo, é a cereja no bolo da demência que grassa no continente americano.
As democracias são aí exóticas, residuais ou em vias de extinção, a sul do Canadá. Basta um segundo mandato de Trump para acabar com veleidades de eleições livres em países da América Central e do Sul.
É evidente que Jair Bolsonaro não quer, não pode e não sabe governar em democracia. O Senado e o Congresso dos deputados, onde muitos estão habituados a trocar o voto por benefícios pessoais, sem ideologia e sem entusiasmo na defesa do interesse público, não lhe vão facilitar a vida.
Quem conhece a cultura de caserna do cavernícola que as redes sociais, as televisões e a influente lepra evangélica levaram ao poder, facilmente adivinha que as botas cardadas serão o seu modelo e as espingardas o apoio que solicitará. Resta saber se a tropa, com que conta, estará disposta a aventuras e terá por ele a afeição do bispo Edir Macedo.
Deixar 200 milhões de brasileiros nas mãos de um boçal sem experiência governativa, sensatez ou projeto é um perigo para a sobrevivência dos mais pobres e um incentivo à violência que a liberalização do uso de armas não deixará de estimular.
Jair Bolsonaro considera-se um enviado de Deus e tem o apoio de Trump, as orações de Duterte, o assassino das Filipinas, e ainda a ajuda de toda a extrema-direita mundial e de Israel, para além dos que pretendem a Amazónia e deter os recursos do subsolo, o que garante o aumento do PIB que o ajudará a endurecer o poder.
Francis Fukuyama enganou-se rotundamente quando previu o fim da História. Está em marcha um retrocesso que não brota apenas no continente americano, é uma mancha de óleo que alastra a todo o Planeta e já contaminou a Europa. Os inimigos da democracia e dos direitos humanos, paradoxalmente, alcançam o poder pela via democrática. Hoje, são eleitos indivíduos que eram casos de polícia e agora se tornam líderes políticos.
A tomada de posse de Bolsonaro, com coreografia pífia e desajeitada, parecia mais uma parada militar do que a substituição de um PR em democracia. A faixa presidencial lá passou do corrupto golpista, Michel Temer, para Messias Bolsonaro, que hesitou em entrar de cabeça ou com o braço à frente.
“O Brasil acima de tudo [Deutschland über alles] e Deus acima de todos”. Bolsonaro dixit.
Depois, foi o sombrio desfilar de figuras menores onde o abraço sionista de Netanyahu foi o mais demorado, e o de Marcelo, o único PR da Europa, parecia uma ida mais a um velório onde, despachados os pêsames, fugiu a ver os netos ou a esconder a vergonha.
O juiz que prendeu, investigou e condenou Lula da Silva lá fará companhia a Bolsonaro e a vários generais, indiferente à humilhação que infligiu à Justiça com a sede de poder que o devorou.
Não é um governo que o ex-capitão comanda, é uma companhia de tropa sem vergonha.

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7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sentenciar o homem no dia da tomada de posse, não me parece justo nem prudente, até porque as tais redes sociais e televisões, deram mais enfoque aos aspectos negativos da sua campanha do que aos que realmente convenceram a maioria dos brasileiros.
O Lula foi endeusado e revelou-se mais um grande ladrão do povo.
Não concordo que o Bolsonaro não tenha um projecto sensato. Ele deixou-o bem claro no seu discurso de tomada de posse.
A saber, comprometeu-se reduzir o peso do Estado, reduzindo o número de políticos, os impostos sobre as empresas e a burocracia. Estas medidas, a ser tomadas, vão atrair a confiança dos investidores, aumentar o emprego e impulsionar a economia.
Depois declarou guerra à corrupção e escolheu um Juiz que é um símbolo para os que acreditam que essa luta é possível.
Prometeu reduzir a criminalidade que assola aquele território e essa é a tarefa principal de um Estado, pois é o sentimento de segurança que leva as pessoas juntarem-se em sociedade, o resto o mercado providencia e quanto menos interferência do Estado, menos corrupção, menos dinheiro dos impostos mal gasto e consequentemente, mais dinheiro nas mãos de quem tem interesse em gastá-lo cuidadosamente.
A ver vamos. Respeito e desejo muito sucesso à escolha que os brasileiros fizeram.
Ribas

3 de janeiro de 2019 às 10:46  
Blogger Islander said...

Acreditar que se reduz os impostos e burocracia num país como o Brasil ao ponto de aumentar o emprego e a economia é quase tão ingénuo como acreditar que se reduz a criminalidade liberalizado as armas. É bonito ver tanta ingenuidade em pessoas adultas e com um mínimo de educação, devo dizer....

3 de janeiro de 2019 às 11:48  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Eu tenho conhecido muitos brasileiros.
Alguns no Brasil (muitos querem vir para cá), outros em Portugal, a trabalhar aqui e perfeitamente integrados.
Faz-me confusão como é que muitos deles querem uma DITADURA no Brasil, mas preferem viver numa DEMOCRACIA — o inverso do que sucedia com os velhos comunistas, que incensavam a europa de Leste, mas preferiam viver na do Oeste.
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Eu oiço-os a todos, e tento perceber o que se está a passar.
As suas grandes obsessões, no que respeita ao Brasil, são a Corrupção e a Criminalidade — nem uma nem outra o PT combateu eficazmente.
Pior: no caso da Corrupção, não se tratou apenas de "não a combater": mergulhou nela como os outros todos fazem.
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Enquanto os apoiantes de Bolsonaro garantem, bizarramente, que «ele NÃO FARÁ o que prometeu» (!!), em vão procuro na esquerda brasileira algo que se assemelhe a uma auto-crítica.
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Curiosamente, acabei por perceber um pouco acerca desse ódio generalizado a Lula e ao PT através de Jorge Amado (alguém insuspeito de ser de direita), nas suas memórias "Navegação de Cabotagem", em que ele, já há muito anos, falava de ambos em termos muito pouco abonatórios.

3 de janeiro de 2019 às 13:04  
Blogger opjj said...

Tem razão, ele vai prejudicar sobretudo a Venezuela que se arrisca a trocar um ditador brutal pela democracia.
QUANTO à parada militar, deve olhar para dentro de casa. NA passagem do presidente chinês XI XIPING por Lisboa teve uma parada militar maior que Bolsonaro. Comparar 200 milhões de habitantes com 10 milhões! Veja o absurdo!
PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER VER.
Cumps

3 de janeiro de 2019 às 17:39  
Blogger Carlos Esperança said...

Exmo. OPJJ:

Os pobres dos Venezuelanos não precisam da ajuda deste primata. Já têm o seu Bolsonaro, igualmente devoto e de sinal contrário.

Desejo-lhe um excelente ano e vigilância do ácido clorídrico, agradecendo-lhe que continue a ser meu leitor.

3 de janeiro de 2019 às 18:06  
Blogger Ilha da lua said...

Concordo com CBE Entre um e outro venha o Diabo e escolha Perante o cenário político internacional,que me parece ameaçador,é a altura exacta,para as velhas democracias se interrogarem sobre onde falharam...Agora!Pois,cm a rapidez com que tudo acontece,poderá ser tarde demais!

3 de janeiro de 2019 às 19:13  
Blogger José Batista said...

Revejo-me no comentário de CMR.
Só acrescentar que Temer e Bolsonaro só foram possíveis (julgo eu) face ao que o PT e Lula deixaram fazer e/ou fizeram.
É em democracia que se cuida da democracia. Se não for assim, ela definha e morre, de causas conhecidas, e sucede-lhe a ditadura. Com maioria de votos, como a História ensina.

5 de janeiro de 2019 às 19:12  

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