13.6.19

O 11 de junho, o PR e o Dr. João Miguel Tavares no 10 de Junho

Por C. Barroco Esperança

Arredado dos noticiários televisivos, por razões de higiene, li depois os discursos do PR e do seu alter ego, nomeado para presidir às comemorações do 10 de Junho, em Portalegre.
Soube que o 10 de junho é quando o presidente quiser. No dia 10 foi em Portalegre e, depois de atribuir 4 medalhas de ouro a outros tantos estandartes, na Cidade da Praia; e, no dia seguinte, em Mindelo, Cabo Verde, país que tem 21 mil emigrantes portugueses, onde apenas se julgava que, além de turistas, só havia 1, Dias Loureiro, o paradigma de empresário-modelo, assim designado pelo académico-padrão Passos Coelho.
No seu discurso, o PR nomeou portugueses ilustres espalhados pelo mundo. Dado que todos eram ex-governantes do PS, deixou, para compensar, ao presidente da comissão organizadora das comemorações, um truculento jornalista da área do PSD, a leitura de uma redação com a narrativa política de Passos Coelho.
Não se esperava do Dr. João Miguel Tavares a grandeza, a eloquência e a elegância de Sampaio da Nóvoa, num dia igual, nas mesmas funções, noutra cidade, e podia poupar-nos à biografia narcisista do lugar onde nasceu, viveu e cresceu, à árvore genealógica, ao número e nome dos filhos, às suas habilitações literárias, à vida e à vinda dos sogros, de Moçambique, distraído de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Regressou aos incêndios de Pedrógão e usou o púlpito como extensão do seu espaço no jornal Público, onde, no dia seguinte, foi reproduzido em duas páginas, 10 e 11, para vazar o azedume, onde concluiu que «…quando se trata de refletir sobre o nosso papel enquanto cidadãos, parte de uma nação e de um tecido social e político comum, colocamos uma mola no nariz e dizemos que pouco temos a ver com isso porque os políticos não se recomendam.». O jornalista, na sua indigência, afrontou quem lhe fez o convite, um político com meio século de legítima militância, o PR.
Não foi um discurso comemorativo, foi um extenso arroto da flatulência fermentada na nostalgia salazarista, na memória do “nosso Ultramar infelizmente perdido” e na moral de que só a direita é portadora.
No dia 10 de Junho, o PR fez uma escolha infeliz, confiou o discurso do dia a quem só podia dar o que deu, da forma que sabia, transformando o feriado nacional no medíocre comício populista. Camões merecia melhor.

Etiquetas: