5.7.19

Viana devia ter vergonha do que faz ao prédio Coutinho

Por Joaquim Letria
O País tem assistido atónito e sem perceber ao final do drama dos velhos moradores e proprietários do prédio Coutinho, em Viana do Castelo, onde os poderes públicos os querem expulsar para demolir um edifício bem construído, dos poucos em Portugal com construção anti-sísmica, e de tal qualidade que até o átrio é revestido a mármore de Carrara.
Destroem-se assim vidas, memórias, recordações e afectos para se construir um mercado municipal, no centro duma cidade, porque um dia um primeiro-ministro especializado em deixar o país com uma mão à frente e outra atrás  achou o edifício uma aberração arquitectónica e os seus pares partidários aproveitaram até hoje esse balanço para ganhar mais algum, actividade em que se viriam a especializar e a praticar até hoje, a bem da nação.
Sou vizinho do bairro da Jamaica, no concelho do Seixal e conheço razoavelmente bem todas as regiões do meu País. Por isso não posso deixar de me espantar que se proceda como se procede relativamente ao prédio Coutinho, em Viana do Castelo. Conheço o bairro da Boa Vista e o da Cova da Moura, o do Aleixo no Porto e muitas outras regiões degradadas que parecem não preocupar minimamente as autoridades centrais e autárquicas como o prédio Coutinho preocupa quem manda em Viana do Castelo.
Governo e autarquias não parecem preocupar-se com factos como estes:
200 mil pessoas não têm nem banho nem duche em Portugal; 18 mil famílias não têm qualquer sistema de esgoto; 44 mil pessoas não dispõem de água canalizada; 55 mil pessoas não podem servir-se duma sanita; 81 mil pessoas nunca usaram um autoclismo ; 5 por cento das casas não têm infra-estruturas básicas;11 por cento dos portugueses não bebem água canalizada, ou seja um milhão e cem mil pessoas e dois milhões e 300 mil portugueses recorre a fossas sépticas.
Nada disto parece preocupar os contentinhos que nos governam e aqueles que gerem os fundos europeus. O que preocupa uns e outros é disfarçar o défice, dar uma vaga ideia do que foi feito às poupanças de quem confiou na banca e deitar abaixo o prédio Coutinho.
Em Viana vi, com tristeza, uma população amorfa e amedrontada a não reagir ao que lhe fazem, incluindo a esta vergonha que se passa com o prédio Coutinho. Meia dúzia de mirones a ver o que iam fazer aos velhos resistentes do Coutinho enquanto os outros punham os olhos no chão. Que tristeza de democracia esta em que vivemos… 
Publicado no Minho Digital

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5 Comments:

Blogger O TEU FLUVIÁRIO METE ÁGUA CAMARADA said...

um prédio que vai ser alagado em 2050 não merece salvação é deitar abaixo o mamarracho

5 de julho de 2019 às 12:09  
Blogger Dulce Oliveira said...

Tudo isso é chocante e creio que desconhecido da maioria das pessoas.
Por mim achei de uma grande indignidade a maneira como foram tratados os moradores resistentes, pior do que animais que se o fossem tínhamos o PAN à perna...

5 de julho de 2019 às 12:43  
Blogger Ilha da lua said...

O grande mal deste país é termos, como diz,uma população amorfa e amedrontada O prédio dos Coutinhos, está na mesma situação, que tantos outros espalhados por este país Será, que vai tudo abaixo?

5 de julho de 2019 às 17:19  
Blogger opjj said...

Concordo.O Berloque de Esquerda e o PC passaram ao lado, só ficaram activos quando foi a maternidade Alfredo da Costa.Se fosse um cão tinham mais sensibilidade!
Porreiro Pá!

5 de julho de 2019 às 19:08  
Blogger José Batista said...

Inteiramente de acordo, Caríssimo Letria. Moro em Braga, e se, por questões arquitectónicas, se deitassem abaixo os prédios que a desfeiam, demoliam-se dois terços da cidade, pelo menos.
E isso nada é comparado com os casos de necessidade e miséria (habitacional e outra) do país e, já agora, de tantos locais do distrito e até do concelho de Viana do Castelo. Mas os portugueses são como são e os minhotos não fojem à regra...
Mais chocante ainda é pensar que foi um ex-primeiro ministro que se distinguiu por assinar umas construções inqualificáveis lá pela Beira Interior que chamou «mamarracho» àquele prédio e desencadeou o processo da sua demolição. O que só atesta o que escrevi no parágrafo anterior.

6 de julho de 2019 às 12:44  

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