O Caldinho que nos estão a preparar
Por Joaquim Letria
A American Economic Review publicou recentemente um importante estudo acerca do impacto que a entrega do monopólio televisivo, pelo então primeiro ministro socialista Bruno Craxi, ao empresário Silvia Berlusconi, no início dos anos 80 do século passado, veio a ter na degradação da vida cultural, cívica e política da Itália, deixando-a à mercê dos três canais de televisão que viriam a transformar o antigo dono do AC Milan no mais duradouro chefe de Governo italiano desde a queda de Benito Mussolini.
Não vos escrevo isto somente por curiosidade ou por ter lido a revista americana que refiro, mas principalmente por ligar estes factos, reunidos e analisados por gente que sabe o que faz e o que diz, com a notícia irreversível de que em Portugal a TVI, pertença do grupo editorial espanhol Prisa, vai ser vendida à Cofina, proprietária do império Correio da Manhã por mais de 550 milhões de euros.
Chamo-lhe império Correio da Manhã porque é o que é, com um milhão de audiência no jornal em papel, mais milhão e meio de visualizações no site on line e dois milhões de audiência do CMTV .Mas nem precisa que lhe chamem império porque tudo isto mais a Rádio Comercial que pertence ao grupo Media Capital, que também é deles, e com a restante Imprensa portuguesa nos cuidados intensivos, o Dr. António Costa vai fazer o mesmo que o seu camarada Craxi, grande amigo do Dr. Mário Sores, fez em Itália. A nós resta-nos fugir para o NetFlix e o HBO ou vemos a BBC, a France Inter e a TV Galiza. Enfim, afinal de contas, Portugal moderno junta-se ao Berlusconi, em Itália, ao Bouyges em França e ao Rupert Murdock no Reino Unido.
A Itália tem estado nas mãos de palhaços e vê os novos fascistas a avançarem sem apelo nem agravo. Em França, os partidos tradicionais foram-se abaixo e a família Le Pen progride de vento em popa. No Reino Unido temos a confusão do Brexit que uns deputados pouco credíveis defenderam para nós acabarmos a ver o isolamento e a decadência em que aquela grande nação corre o risco de cair.
Em Portugal já experimentámos disparates desta ordem quando Cavaco Silva, cortando financiamento à RTP, entregou de mão beijada dois canais (SIC e TVI) a grupos privados, sem obrigações nem regras, num inexistente mercado publicitário, inventando uma instância reguladora que nunca regulou coisa nenhuma mas satisfaz apetites de jornalistas e magistrados mal aboletados que os partidos fazem o favor de para lá nomear.
Vamos ter mais informação escandalosa misturada com entretenimento chunga, o que pode ainda não nos assustar, mas quando percebermos que é assim que se inventa e elege os Salvini, os Trumps e os Bolsonaros, então ou nos exilamos ou vamos rezar num qualquer templo evangélico dos muitos que já existem por aí.
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
3 Comments:
Cavaco Silva é o mau da fita. Muitos lhe querem bater, mas foi ele que quebrou o monopólio da informação.
Já agora, e foi com ele que o país mais cresceu.
Se o povo o escolheu é porque tinha confiança nele.
Parece que o Homem depois de morto incomoda e vai continuar a ser falado.
Cumps.
Tivemos um pr que não lia jornais, se calhar dava-lhe mais jeito ver TV. Perante o que temos e o que prevemos quase me apetece dizer: voltem fff que estão perdoados
Caaalma, Joaquim.
Umas Alta ERC zela pelo Regime.
Dispensa-se o ministro da Tutela, a saber, o PM & Govern, de assumir responsabilidades,
e pronto,
garantida a paz na Dinamarca.
Com um Govern de 50 SE, haverá algum para ler Letria?
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