17.10.20

No "Correio de Lagos" de Set 20

TODOS nos lembramos de quando, no início da epidemia, a DGS desaconselhou o uso de máscaras porque davam “uma falsa sensação de segurança”, embora toda a gente considerasse uma boa prática tossir e espirrar para o antebraço, para evitar a disseminação das gotículas — o que qualquer máscara, mesmo artesanal, fazia bem melhor.  

Mas talvez fosse assim porque a Humanidade acabava de entrar numa GUERRA, e, «na guerra, a primeira vítima é a VERDADE»; no entanto, se o motivo da mentira era o facto de não haver máscaras suficientes no mercado, a culpa era da incompetência dos governos, incapazes de escutar os avisos (que remontavam, pelo menos, a 2011) acerca do surgimento, a qualquer momento, de uma epidemia como essa.

É evidente que essas indicações contraditórias (em assunto tão grave, e vindas de pessoas com tais responsabilidades), ajudam a justificar as recentes movimentações contra o uso de máscaras, pelo que vêm bem a propósito dois exemplos que todos conhecemos:

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QUANDO passou a ser obrigatório usar CINTO-DE-SEGURANÇA, muita gente se recusou a fazê-lo, e cheguei a ter uma discussão com uma pessoa amiga que se insurgia por ter a sua liberdade individual coarctada. Eu sugeri-lhe, então, que trouxesse no carro um AVISO informando que abdicava de qualquer ajuda em caso de acidente — pretensão difícil de satisfazer, porque, mesmo contra sua vontade, um desastre iria mobilizar GNR, INEM, bombeiros, médicos, enfermeiros, seguradoras, reboques... e muito mais, dado que não vivemos numa ilha deserta, onde os nossos actos não afectariam ninguém.

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MAS, se podemos considerar que o cinto-de-segurança protege essencialmente o próprio, o mesmo já não sucede com outro acessório que também veio a ser obrigatório: refiro-me às PALAS para as rodas traseiras. Nessa época, a maior parte dos carros não as trazia, e por isso os seus proprietários tiveram de as comprar. E repare-se que, tal como no caso das máscaras, as pessoas tinham o incómodo e a despesa — não para se protegerem a si, mas para protegerem OS OUTROS; no entanto, tudo isso funcionava bem, porque as palas deviam ser usadas por TODOS, o que era garantido pelas autoridades, que multavam os infractores sem apelo nem agravo.

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GOSTE-SE ou não, para que a vida em sociedade seja possível, a liberdade individual não pode ser absoluta — coisa que já o Homem Primitivo sabia, agrupando-se em bandos e em tribos, abdicando de parte da sua LIBERDADE para ganhar, em troca, a SEGURANÇA necessária à sobrevivência.
Hoje em dia, apesar de 6 mil anos de Civilização e 70 mil como “sapiens”, não falta quem coloque os seus interesses acima do bem colectivo, pelo que a Sociedade, para se defender, tem de recorrer a legislação e a penalidades efectivas. Mas isso, em Portugal, é quase uma utopia — basta ver como as autoridades, no caso da Covid, passam mais tempo a fazer “sensibilização & pedagogia” do que a reprimir comportamentos criminosos, transformando, com esse “porreirismo”, normas necessárias em autênticas leis-da-treta. 

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RECENTEMENTE, numa viagem pelo Centro e Sul do país, deparei-me com muitos casos de laxismo, desde estabelecimentos onde os clientes eram atendidos por funcionários sem máscara, até praias ostentando bandeirinhas vermelhas a indicar que a lotação máxima fora atingida — coisa a que ninguém liga, e em alguns casos com razão, como sucede na Praia do Camilo, para a qual a APA definiu uma lotação máxima de 14 pessoas, número que, depois, num acesso de “generosidade”, subiu para 40! 

Claro que, como sempre sucede no nosso país, quando uma norma é manifestamente ABSURDA — como é o caso — ninguém a contesta... mas também ninguém a respeita. Só que é assim que a malta gosta, e, como estamos em Portugal, ninguém leva a mal.

 

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