17.1.21

“Nova Costa d’ Oiro” de Dezembro 2020




O ARANHIÇO CHINÊS
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HÁ UNS anos, depois de ter comprado, numa “loja de chineses”, um “aranhiço” para fixar um prato na parede, entrei numa outra — de ferragens —, onde o patrão, com a confiança que lhe davam os muitos anos de convivência comigo, olhou para o que eu levava na mão e quis saber onde é que o tinha adquirido. Depois, no seguimento da minha resposta, subiu a um pequeno escadote, puxou para si uma velha caixa de cartão, e, dando-se ares de prestidigitador, tirou de dentro dela um outro “aranhiço”, que em seguida colocou sobre o balcão, a par do meu, mostrando como eram quase irmãos gémeos, sendo o meu feito na China, e o dele em Portugal.

E estava a sair-se muito bem desse pequeno espectáculo até que eu coloquei a factura da compra do meu “aranhiço” ao lado da etiqueta com o preço (bem superior...) do seu. Portanto, se a ideia dele era condenar “quem dá dinheiro àqueles gajos”, o exemplo foi infeliz, pois não se pode exigir que os consumidores (de uma forma geral, entenda-se) comprem produtos mais caros sem nada que o justifique, nomeadamente em termos de qualidade.

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CLARO que o problema era — e é... — sério, pois está relacionado com a sobrevivência, e o que esse amigo simbolizava era a luta desigual do pequeno comércio e da indústria nacionais ameaçados pelas grandes empresas. Mas a sua limitada visão do mundo nunca lhe permitiria perceber que não é vendendo as mesmas coisas que os outros vendem (e ainda por cima mais caro) que o problema se resolve, por muita “proximidade & simpatia” que se ofereça aos clientes. 

E fica aqui bem um parêntesis, para lembrar aos mais distraídos que o problema das compras ao estrangeiro vai muito para além dos chineses, pois todos conhecemos casos de organismos do Estado que importam produtos e equipamentos que bem podiam ser comprados em Portugal, dado que também por cá se fabricam — até de melhor qualidade, e por preços mais baixos —, procedimento lamentável, mas de que me dispenso de dar exemplos, não só porque só não os vê quem não quer, como também porque o espaço de que disponho é limitado.

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A UMA escala maior, o que países como o nosso têm de fazer é produzir DIFERENTE e com QUALIDADE internacional, criando postos de trabalho e valor-acrescentado em níveis significativos — e, nos últimos anos, é o Turismo que aparece com destaque nessa frente de luta, valendo, num ano normal, 14% do nosso PIB, um valor que é bem superior, se apenas considerarmos o Algarve. 

Mas o pior é quando não se vislumbra, nos responsáveis políticos, um visão de longo-prazo, como sucede (e dificilmente se arranjaria hoje melhor  exemplo!) com o problema da ESCASSEZ DE ÁGUA no Algarve: no ano passado, não se falava de outra coisa, e muito bem; mas este ano, pelo menos até à data em que escrevo, tudo se passa como se o problema já estivesse resolvido ou em vias disso!

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ORA, e como, hoje em dia, a PANDEMIA é assunto incontornável, não resisto a associar esse tema ao da INCAPACIDADE DE PREVISÃO dos governos, tendo escolhido, para documentar — por contraste — uma imagem que mostra um gigantesco armazém secreto (de entre os muitos que os “frugais” finlandeses mantém desde os tempos da Guerra-Fria), com tudo o que é básico para enfrentar uma emergência. 

Sim, àqueles “forretas” não falta nada, talvez porque, em vez de atirarem milhares de milhões para cima de empresas e bancos duvidosos, os gastam em máscaras, luvas, batas, material médico, medicamentos, geradores eléctricos, combustível, alimentos, etc. — uma atitude bem simétrica dos que apenas alternam lamentos de Calimero com palavreado ao nível da chinela — como “sovina” e “repugnante” —, protagonizando uma bizarra variante da fábula da cigarra e da formiga, pois tem a originalidade de pôr esta a invectivar aquela.

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Carlos Medina Ribeiro

Revista “Nova Costa d’ Oiro” de Dezembro 2020

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