O GRANDE AMANHÃ
Por Joaquim Letria
Um jornalista ocidental perguntou certa vez a Deng Xiao-ping quais, em seu entender, tinham sido os efeitos da Revolução Francesa sobre o pensamento europeu. O velho líder chinês respondeu:
— Ainda é cedo para o sabermos.
De uma crise como esta que vivemos actualmente não se sai sem um grande acordo social, no qual os principais interlocutores – empresários, trabalhadores e administração pública – cedam conscientemente nas suas posições de princípio até encontrarem um mínimo denominador comum que permita a recuperação, o bem estar e, por fim, o desenvolvimento.
Perdidos no meio de tanta teoria, sujeitos a tantos especialistas tombados sobre mapas e gráficos de tanta estatística, números frios e inertes, jaz o drama de muitos milhões de pessoas, verdadeira vala comum de sonhos desfeitos.
Muito pouca desta gente a quem pertencemos saberá o que é o PIB ou o défice comercial e quase ninguém será capaz de explicar o que é a balança de transacções correntes.
Sobrevive-se numa sociedade desprendida e sem solidariedade em que ninguém quer repartir o que há, de forma a que algo chegue para os que nada têm. Só um grande debate poderá levar-nos ao acordo necessário. Deixando cada um de fora as malas da demagogia, impõe-se a honestidade de remeter cada discurso para a crueldade dos factos.
O homem de hoje tem de se reconhecer provisório. Como dizia Karl Marx, diante de nós tudo se volatiliza, tudo o que é sólido se pulveriza no ar. Finitos como somos, reinventamo-nos sem cessar.
Este é um debate que devíamos travar com serenidade e a duas dimensões. A do dia a dia de hoje e a do grande amanhã.
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
1 Comments:
Muitos parabéns por este texto, Joaquim Letria. De pequena extensão, mas infinito na ideia de solidariedade e muito profundo na noção de afecto, de que não podemos prescindir. Obrigado. Um abraço.
Enviar um comentário
<< Home