24.2.22

E a Espanha aqui tão perto!

Por C. B. Esperança

É escasso o relevo dado pelos media portugueses à Espanha, sobretudo no que respeita à política, apesar do mimetismo que pode contaminar os partidos portugueses homólogos.

O maior partido da oposição e um pilar do regime democrático, embora oriundo do franquismo, tem dado o triste espetáculo de associação pouco recomendável, a ameaçar desfazer-se na praça pública. 

Anteontem, às 15 horas, o líder do PP anunciou a demissão. Ontem, Pablo Casado, no 41.º aniversário do último suspiro do fascismo – o golpe de Estado de 23 de fevereiro de 1981 –, demitiu-se e abandonou solitariamente o Parlamento.

Não bastava a corrupção que atingiu todos os níveis do PP. Pablo Casado, líder que ora deixa o cargo, entrou em conflito com a estrela rival, Isabel Díaz Ayuso, presidente da Comunidade de Madrid. 

Enquanto Isabel Díaz Ayuso o denegria, Casado encomendou uma investigação à principal opositora interna, que governa apoiada pela extrema-direita, e revelou que teria pagado ao irmão a comissão de 288 mil euros na encomenda de máscaras Covid. A violência dos ataques mútuos desfez a reputação de ambos, e muitos eleitores migraram para o partido fascista VOX, e alguns outros, os que decidem eleições, para o PSOE.

Os barões do PP, desde a tralha de Aznar aos mais respeitáveis, amedrontados com as sondagens, retiraram sucessivamente o apoio a Pablo Casado, para evitarem ao partido que fizesse haraquíri em público, obrigando-o a demitir-se, enquanto os colaboradores iam abandonando o barco que se afundava e o isolaram.

O PP, em risco de implosão, voltou aos tempos de crise profunda da Aliança Popular, de onde nasceu, após a demissão de Fraga Iribarne, e das sucessivas vitórias do PSOE nas eleições gerais de 1982 e 1986.

A entrada na UE fez com que o partido modelado pelo franquista Fraga Iribarne, e que Aznar levou ao poder, se tornasse mais democrático, tendo Mariano Rajoy introduzido a moderação dos homólogos europeus, enquanto a corrupção herdada do franquismo continuou a miná-lo.      

A demissão de Casado não cura as feridas internas, mas permite que outro/a líder venha dar um rosto à oposição de direita não fascista.

As últimas sondagens, com o VOX a ultrapassar o PP, alarmaram os barões que ditaram a demissão de Pablo Casado.

Se as convulsões no seio do PP eram um seguro de vida para o PSOE, agora abre-se um novo ciclo que definirá a geografia eleitoral no país vizinho. 

Ponte Europa / Sorumbático  


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