13.3.22

No “Correio de Lagos” de Fevereiro de 2022


QUEM
me conhece sabe da minha paixão por História, e do que, para mim, significa, em termos emocionais, estar (como dizia o Prof. Hermano Saraiva) “exactamente onde as coisas aconteceram”, ou onde alguém, historicamente importante, também esteve.

Ora, no caso do nosso D. Sebastião, sabe-se que veio cá no dia 21 de Janeiro de 1573 (seis dias depois Lagos era elevada a Cidade), voltando mais tarde, em 26 de Junho de 1578, dessa vez a caminho da fatal jornada de África que culminou, em 4 de Agosto (*), no desastre que a ele lhe custou a vida, e a nós a independência nacional. 

E era por saber que o malfadado rei tinha estado “exactamente ali”, que eu me entristecia profundamente ao ver, ano após ano, aquele espaço transformado em WC público (incluindo um regato e um fosso de urina!) — pelo que, naturalmente, comecei a falar disso no Facebook, na página “Lagos, a Minha Cidade” que já nessa altura tinha milhares de membros. 

Porém, entre os vários comentários que surgiram (com destaque para o “Se não gostas, vai para a tua terra!” e “Você só sabe é dizer mal!”) apareceu um em que se dizia: «Porque é que você não vai lá lavar aquilo, em vez de vir para aqui protestar?!». 

Ri-me, com gosto, ao constatar que esses indivíduos apenas confirmavam a versão lacobrigense da divertida “Lei de Godwin” (de que falarei numa próxima oportunidade), pelo que resolvi levar aquilo para a brincadeira, respondendo, nesse caso concreto, que eu precisava de ajuda, sugerindo que, num dia à escolha dele, fôssemos lá os dois: «Eu levo a esfregona, e você o balde da água».

Essa interessante troca de ideias morreu aí, mas vale a pena acrescentar que teve uma sequela quando, algum tempo mais tarde, alertei para o facto de que várias lajes da escadaria de Porto de Mós tinham sido arrancadas pelo mar, estando ali perto à espera de que alguém (da autarquia, presumia eu) as recolocasse ou, pelo menos, guardasse, antes que o mar as destruísse. Pois também dessa vez apanhei com um comentário de alguém questionando-me porque é que não as ia eu apanhar, em vez de estar ali a queixar-me publicamente!
Nada de novo, pois, como muito bem sabe quem frequenta as redes sociais, o que preocupa essas pessoas não é a situação em si (por muito grave que seja), mas sim o facto de alguém expor publicamente o desleixo ou a incompetência de entidades da sua estima, pessoal ou partidária. Mas também nesse caso respondi que eu já era septuagenário, pelo que não tinha físico para andar a alombar com lajes dessas... mas teria muito gosto em ir lá com ele.


E É ASSIM que, agora, nos deparamos com o caso inqualificável do Forte da Ponta da Bandeira onde sucede o que a imagem documenta:

As pedras que o mar tem arrancado já não têm conta; muitas delas foram levadas para longe, não sendo poucas as que já estão enterradas na areia, como este mesmo jornal denunciou por várias vezes. Mas, tendo em conta que há ali umas boas toneladas de pedras a recolocar, acho que devo ficar grato por ainda ninguém me ter intimado, no meio dos habituais insultos soezes, a ir lá eu tratar disso...

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(*) – É impossível não referir, aqui, o documento da CML intitulado “Enjoy Lagos” que, no seu parágrafo 7, informa os leitores (em português e inglês) que D. Sebastião esteve “precisamente ali” em 1579, apesar de ter morrido no ano anterior! A menos que o autor do texto esteja a confundir o monarca com algum dos que, mais tarde, se fizeram passar por ele, trata-se de um erro desnecessário, para o qual este mesmo jornal já alertou em Agosto do ano passado (aquando do aniversário da batalha de Alcácer Quibir), e que bem podia ter sido corrigido. Ou, então, como diriam os “Gatos Fedorentos”: «Poder, podia, mas não era a mesma coisa».


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